“Ter ideia é fácil, difícil é executar”, diz Tallis Gomes, fundador de Easy Taxi e Singu

10 de janeiro de 2020
Tallis Gomes/Divulgação

Tallis Gomes foi criado pela avó e aprender a empreender desde cedo

Tallis Gomes, 32 anos, é descontraído. Firme e didático, faz qualquer um acreditar que pode amanhã mesmo abrir um negócio de sucesso, com o mesmo poder de fogo de suas crias consagradas, Easy Taxi e Singu. E fortalecer o espírito empreendedor do brasileiro é uma das missões do jovem mineiro de Carangola, cidade de cerca de 33 mil habitantes, no sudeste de Minas Gerais, mais próxima de Vitória no Espírito Santo do que da capital mineira, Belo Horizonte.

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O multimilionário empresário recebeu a FORBES Brasil para uma conversa no fim do ano passado na sede da Singu, marketplace de beleza fundado em 2015, atual menina dos olhos de Tallis ao lado do Gestão 4.0, braço de educação executiva de sua empresa, que tem feito mais sucesso do que o esperado. Quem vê tantas glórias, porém, não imagina o tortuoso caminho percorrido por ele, selecionado para a lista FORBES Brasil Under 30 de 2014 e que tem em seu currículo também o lançamento de um best-seller de negócios, o livro “Nada Easy”, em que conta sua trajetória e dá dicas de empreendedorismo.

Criado pela avó e pelo patrão dela, a quem ele chama de avô, Tallis teve acesso a educação e foi instado a empreender desde muito cedo. A primeira “incursão” no mundo dos negócios aconteceu ainda na pré-adolescência. Aos 14 anos, vocalista de uma banda de rock – ele diz que canta agora apenas de brincadeira – e louco para comprar uma bateria para o grupo, Tallis teve a ideia de vender telefones disponíveis no Mercado Livre com uma margem de lucro em cima. “Criei o que hoje a gente chama de marketplace. Na época, nem sabia o que era isso”, conta.

Com uma filha pequena (ele foi pai aos 15 anos), conseguiu dinheiro suficiente para deixar a pequena cidade. Começou, então, a cursar publicidade no Rio de Janeiro, mas largou para fazer um curso de antropologia na África do Sul por seis meses, de onde voltou fluente em inglês. Seu primeiro negócio formal surgiu pouco depois, em meados dos anos 2000, com uma agência de gamificação de mídias sociais. “Não era o timing e eu quebrei menos de um ano depois.”

O empresário perseverou. “Fiz de tudo para poder sobreviver. Fui valet, entreguei panfletos”, lembra. Trabalhos em grandes empresas também apareceram. Unilever e Ortobom estão entre as companhias em que Tallis ficou por pouco tempo, sempre no departamento de marketing. “Nunca consegui ficar muito em empresa nenhuma”, afirma. O fato de ser muito bom com números – ainda que criativo, apesar da falta do diploma de ensino superior -, ajudou. “Conseguia fazer a parte analítica. Aprendi no meu primeiro negócio [em Carangola], quando fazia planilha em papel, como meu avô me ensinou.”

A Tech Samurai, agência de construção de software, surgiu logo depois. A ideia era vender projetos para empresas usando mão-de-obra remota de países como a Índia. O negócio durou só cerca de dois anos, mas rendeu a Tallis muito mais do que o jovem de 21 anos à época imaginava ganhar. “Sobrava dinheiro pra caramba, foi quando eu comecei a investir em mercado financeiro.”

Virada

O grande pulo, porém, ainda não havia chegado. Em uma competição, em 2011, Tallis teve a ideia da empresa que o alçaria à condição de empresário reconhecido mundialmente: a Easy Taxi. “Ninguém acreditou. Me disseram que, se fosse bom, alguém já teria feito nos EUA.” O fato era que pouca gente tinha acesso a smartphones, mas o empresário apostou na ideia, gastou as próprias economias e foi em frente. O negócio rodou mais de um ano sem investidores antes de chamar a atenção do fundo alemão Rocket, que comprou 70% da Easy Taxi em 2012, em uma rodada de investimentos de R$ 10 milhões. Com uma estratégia de aumentar a empresa para que o negócio não fosse tão diluído em uma segunda rodada, Tallis expandiu a Easy Taxi para 35 países, chegando a 500 mil motoristas e 20 milhões de clientes.

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Em dezembro de 2014, quando deixou a companhia, ele tinha 4% e a Easy Taxi era líder no setor de transporte compartilhado mundialmente, alcançando mais países do que a Uber. “Mas nós tínhamos levantado US$ 80 milhões e eles US$ 1 bilhão. Éramos mais eficientes”, comenta.

Em 2015, Tallis saiu definitivamente da Easy, que foi comprada pela Cabify no ano seguinte por “40% a menos do que valia quando deixamos a gestão”. A próxima empreitada não demorou a surgir. A Singu, marketplace de serviços de beleza, foi fundada no mesmo ano. “Uma amiga advogada disse, rindo: ‘Estou indo para uma audiência agora com as unhas horríveis. Faz um Easy Manicure’. Vi sentido e fui pesquisar o mercado, que é de US$ 30 bilhões atualmente.” Sem encontrar um concorrente que usasse tecnologia para explorar o segmento, Tallis entrou de cabeça no negócio.

O empreendedor conta que muitos tentaram copiar a ideia e falharam, mas o negócio dele continua firme e crescente. “As pessoas me perguntam o que fazer para ter um negócio de sucesso. Não tem muito segredo, é só fazer com que o cara compre e volte a comprar com você. Mas o difícil é fazer, né?”, brinca ele, falando que a Singu tem ótima retenção de clientes. “Aprendemos muito sobre marketplace com a Easy e aplicamos na nova empresa. Criamos um negócio sustentável, com custo de aquisição baixo e crescimento orgânico alto”, pontua o empresário que apresenta o reality “Planeta Startup” na Band.

Divulgação Tallis Gomes

“Nunca tivemos uma perspectiva tão favorável para o país” analisou Tallis Gomes

A Singu tem como uma de suas investidoras a atriz Deborah Secco. A ideia de não comprar publicidade e sim ter uma embaixadora que se identificasse com o público da marca também faz parte da estratégia de negócios, diferente do que Tallis fez no caso da Easy. “Autêntica, independente e determinada”, nas palavras de Tallis, Deborah é diretora criativa na Singu. “Minha estratégia de crescimento é diferente, focada em qualidade, crescimento orgânico, lucratividade, sem levantar capital o tempo inteiro para ter uma empresa sólida e, eventualmente, conquistar um grande parceiro estratégico quando fizer sentido”, conta, afirmando que um IPO está nos planos.

A Singu, que atualmente oferece profissionais treinados de unhas, penteados simples, depilação e massagem – pois, segundo Tallis, ”empresa de serviço precisa de previsibilidade”- também fornece à sua base de atendentes um produto financeiro, com cartões e benefícios, o que poderia até transformar a companhia em uma fintech.

Educação

No começo do ano passado, Tallis e outros parceiros resolveram fazer um e-book de educação executiva, que logo se transformou em curso. A imersão de três dias, recheada de conteúdo prático e palestras com grandes nomes do mercado, voltada a executivos C-Level tinha custo de R$ 20 mil. O sucesso foi tão estrondoso que Tallis criou o Gestão 4.0. Com executivos da Rappi e do Nubank no projeto, o negócio tem hoje 20 pessoas e fatura milhões. “Não posso abrir minha margem de lucro, mas posso dizer que é substancialmente maior do que as empresas de educação brasileiras que fizeram IPO na Nasdaq.”

A ambição é alta. “Pretendemos ser a maior escola de executivos no país nos próximos anos”, diz. Atualmente, os cursos são apenas presenciais, mas devem abrir turmas EAD, cujo preço será mais acessível, e módulos voltados a customer experience e M&A, por exemplo. “Sinceramente, não tinha enxergado esse potencial todo. Achei que seria um bom dinheiro e um bom produto.”

Tallis acredita no modelo de formação de altos gestores como uma forma de também ajudar o país a crescer. “Tem muito salafrário na internet querendo ensinar as pessoas a fazer negócios. Por que a gente, que tem um histórico provado, não faz um material sério e ajuda esse país?”, pergunta. “A única forma de o Brasil crescer é ter geração de emprego. Assim, as pessoas podem consumir, e o PIB cresce. Quanto mais empresas existirem nas bolsas de valores, mais forte fica o mercado de capital. Quanto mais forte o mercado, mais capitalizadas ficam as empresas. Quanto mais capitalizadas, mais elas contratam, mais as pessoas compram e assim gira o círculo virtuoso. E para ter bons ativos no mercado de capitais precisamos de gestores mais bem treinados. Então, enxergamos que a melhor forma que temos para fazer um país diferente é preparar melhor os executivos.”

Conjuntura

É claro que não há fórmula mágica para o sucesso de uma startup. Mas Tallis diz que há boas oportunidades atualmente. “Fico pensando em problemas. Ter ideia é fácil, difícil é executar. A grande dificuldade é achar um problema que não está suficientemente bem resolvido e que as pessoas estariam dispostas a pagar suficientemente bem para resolver. Estou sempre com o radar ligado para isso”, aconselha.

Ele acredita que o ecossistema hoje está maduro, e a conjuntura do país é boa. “Nunca tivemos uma perspectiva tão favorável para o país”, analisa. “Está em discussão uma medida que permite que as pessoas tenham desconto no imposto de renda se fizerem investimento anjo. O nível de sofisticação dessa equipe econômica me deixa muito confiante. Vivemos uma época de ouro no Brasil. Ainda temos algumas reformas para sair, como a administrativa e a tributária, mas a da previdência foi uma vitória épica, porque o país ia quebrar. Uma reforma dura, que o governo teve coragem de propor e passou. Se passarem as outras, acho que teremos um país que nunca sonhamos para os nossos filhos”, pondera.

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Praticante de esportes de alta intensidade, como jiu-jitsu e boxe, Tallis entende que a rotina disciplinada é fundamental para o sucesso profissional. “Não acredito em gestão que não leve em consideração uma vida pessoal disciplinada, focada em esporte. Para trabalhar em ritmo intenso, é preciso ter válvula de escape. Se sou alta performance no trabalho, tenho que ser alta performance na vida. Você não dissocia seu CNPJ do seu CPF, você é a mesma pessoa. Não adianta querer criar um personagem no trabalho”, finaliza.

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