As chibatadas não eram parte de uma tortura medieval. Na verdade, eram essenciais para testar os altos e baixos da circulação do corpo em meio à terapia. Em tours de bem-estar, Albanesi experimenta pelo menos dez tipos de tratamentos diferentes em cada viagem que realiza. Assim, já viveu a realidade de um spa nudista na Áustria, de uma sauna ayurvédica na Índia – um sistema em que a cabeça fica para fora da cabine termal -, e de uma massagem nos pés com mordidas de peixes e sanguessugas em Singapura. “Quero saber o que está acontecendo no setor”, diz ele, com bom humor.
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“Meu pai fazia massagem desde os 16 anos, uma época em que ninguém falava sobre isso. Cresci sabendo que ele era apaixonado por toque e terapia, mas não entendia nada do assunto. No final da faculdade, ele me perguntou se eu não queria entrar com ele em um negócio de spa. Me deu 5% e pediu que eu tocasse a empresa junto com a faculdade e o banco”, relembra o empreendedor, que realmente tocou o negócio como algo extra. Algo que não fazia parte do seu principal objetivo de vida.
Após a graduação, em 2004, Albanesi foi estudar nos Estados Unidos, onde ficou por cerca de um ano. Nesse meio tempo, o spa ficou nas mãos de uma gerente contratada. Sem tantas preocupações com o negócio, sua jornada pelo mercado financeiro decolava. Depois de trabalhar um tempo em São Francisco, voltou ao Brasil e conseguiu um cargo no Credit Suisse como gestor de investimentos. “Trabalhava na assessoria a empreendedores. Mas, depois de um tempo, comecei a querer estar do lado de lá, ser o protagonista de toda a história.”
Além disso, as viagens a trabalho começaram a ficar cada vez mais frequentes – e foi isso que deu origem aos seus tours por spas do mundo todo. “Comecei a perceber o tamanho do mercado de bem-estar no exterior e seu potencial de crescimento. Aqui no Brasil, spa ainda era relacionado ao emagrecimento.” Ao tentar mudar essa percepção, foi percebendo que a vontade de se entregar de vez ao empreendedorismo começou a ficar insuportável. “Meu posicionamento no banco estava muito bom. Eu ganhava 100x mais do que eu ia ganhar no Buddha Spa, que rendia muito pouco. Todo mundo me achou louco, mas eu decidi sair mesmo assim.” Com a decisão tomada, Albanesi tornou-se proprietário de 50% do negócio – a outra metade pertence a seu pai até hoje -, e seguiu em frente, obedecendo sua intuição.
O ano era 2008, época em que o maior desafio ainda era cultural. Embora as percepções já tivessem mudado um pouco desde o início da década, tudo beirava o exótico. Precisou de tempo para que o conceito de “lifestyle” começasse a evoluir. No entanto, o que o empreendedor não sabia até então é que, para que as coisas dessem certo, ele teria que mudar tanto quanto o mundo ao seu redor.
Com a transição de carreira, Albanesi começou a se sentir ocioso. “No banco, eu trabalhava 24 horas. No Buddha Spa, às 18h eu já não tinha mais o que fazer. Eu ficava louco”, lembra. Por causa dessa sensação, abriu um segundo empreendimento, dessa vez com foco em assessoria financeira. Era o mesmo trabalho que fazia no banco. Também começou a investir no setor e preencher de compromissos sua agenda diária. Passou um tempo vivendo assim, até perceber que essa habilidade multitask também não o satisfazia.
“Não estava mais dormindo direito, não estava me sentindo bem. Percebi que não estava vivendo todo aquele conceito de bem-estar atrelado ao spa. Estava promovendo algo que não fazia parte da minha vida”, conta. Foi aí que, em 2014, após quase 15 anos de empreendimento, Albanesi finalmente se deu conta de que a satisfação estava entre as paredes das salas de massagem. “Deixei de fazer assessoria, deixei de investir em outros coisas e fiquei só no Buddha Spa. Quando eu decidi largar todas as outras frentes, o negócio decolou.”
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Para Albanesi, tudo isso foi resultado de uma conjuntura na qual as pessoas começaram a enxergar o bem-estar com outros olhos e ele encontrou seu lugar como empreendedor. Segundo ele, o Buddha Spa já realizou mais de 1 milhão de massagens: são 500 tratamentos todos os dias e 30 tipos de terapias diferentes responsáveis por um faturamento médio mensal de R$ 20 mil a R$ 170 mil por unidade – com lucro entre 15% e 30%.
A diversidade de terapias também é resultado do momento em que Albanesi focou por completo no empreendimento. Com conhecimento prático do que acontece no setor em nível global – por conta das viagens -, o empresário revela buscar inspiração nos spas que visita para oferecer o melhor por aqui. “Da Índia, eu trouxe o conceito de massagem Ayurvética. Ela existe de várias formas, mas aqui decidimos tropicalizar para deixar ideal para o público brasileiro”, revela, ressaltando que os profissionais passam por um treinamento extenso para colocar em prática as terapias.
O crescimento é resultado de seu maior objetivo como empreendedor: “agregar valor a qualquer coisa que se relacione a bem-estar”. Grato pelos ensinamentos que desenvolveu no setor financeiro, conta que os bancos lhe deram visão 360 graus para observar todos os passos do mercado, de produtos sensoriais a massagem helvética. Quem sabe um dia ele também não inclua no portfólio do Buddha Spa as massagens com chibatadas de plantas que experienciou no Marrocos?
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