“Estamos trabalhando para unir diferentes esforços. Os líderes europeus estão tentando preencher esse vazio”, disse o cofundador da Microsoft aos mais de 200 filantropos reunidos online para sua palestra. “[A inação dos EUA] corrói o tipo de relacionamento, admiração e autoconfiança que as pessoas têm em nós como país”, acrescentou Gates, que mencionou o papel fundamental da OMS na luta contra a varíola e a poliomielite. O empresário disse que “a racionalidade reaparecerá em alguém em algum momento” e espera que o país trabalhe com outras nações e intensifique a participação como aconteceu antes, durante os surtos de varíola, malária, poliomielite e HIV.
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“Uma das razões pelas quais estamos tão envolvidos nisso é que ninguém deseja que as primeiras vacinas cheguem aos países que deem os maiores lances”, explicou Melinda Gates. “Existem 60 milhões de profissionais de saúde [em todo o mundo]. Eles merecem receber a vacina primeiro, são eles que lidam com isso nas linhas de frente, tentando manter todos nós seguros. É preciso começar a escalar a partir daí, com base nos países e nas populações. Aqui nos Estados Unidos, serão os negros que realmente devem receber a dose primeiro junto aos muitos povos indígenas, assim como pessoas com sintomas subjacentes e, na sequência, pessoas idosas.”
O casal, cuja Fundação Bill e Melinda Gates já destinou mais de US$ 350 milhões na luta contra o coronavírus, planeja usar duas organizações sem fins lucrativos –o Fundo Global de Combate à Tuberculose Aids e Malária, e a Gavi, Aliança Mundial para Vacinas e Imunização– para ajudar a distribuir equitativamente terapias e vacinas para países em desenvolvimento. Sua fundação prometeu US$ 1,6 bilhão adicional no início de junho para ajudar na missão da Gavi pelos próximos cinco anos. Os Gates também reiteraram seu apoio à Organização Mundial da Saúde, com a qual trabalham há duas décadas. “Não é perfeito, nem sequer é próximo disso, mas é o que o mundo criou após a Segunda Guerra Mundial para lidar com situações como essa pandemia”, disse Melinda sobre a OMS. O presidente Trump anunciou a intenção dos EUA de retirar a filiação e o financiamento da organização internacional no final de maio.
Melinda Gates revelou que, quando o Ebola eclodiu na África Oriental e chegou a Lagos, na Nigéria –uma das cidades mais populosas do mundo– a OMS converteu seus recursos de poliomielite para combater a nova ameaça. As clínicas de poliomielite se tornaram centros de resposta a emergências que fizeram rastreamento de contato e promoveram a quarentena, o que impediu a propagação do vírus nos EUA. “O mundo teve sorte com o Ebola”, disse Melinda, que lembrou ao público que doenças como sarampo eram mais infecciosas que o coronavírus. “Existem outras febres hemorrágicas por aí. Se não temos uma OMS em funcionamento, não veremos uma resposta imediata como essa”.
À medida que o clima fica mais ameno, os Gates vêem a possibilidade de uma segunda onda de infecções por coronavírus e pensam que as máscaras são uma medida essencial. O casal é crítico da falta geral de regulamentação nos EUA no uso de máscaras. “Uma máscara de proteção não é tão cara, não é tão feia”, comentou Bill. “A trajetória a ser seguida passa por: testar, rastrear o contato, isolar, colocar em quarentena e usar máscara. Cada pessoa deve fazer uso de uma máscara, sem exceção”, implorou Melinda.
O casal apontou o efeito desproporcional que o coronavírus teve sobre as minorias e as lacunas no sistema de saúde que a pandemia expôs. Melinda, que recentemente fez uma parceria com MacKenzie Bezos para lançar o Desafio da Igualdade Não Pode Esperar, uma competição que destinará US$ 30 milhões a organizações com idéias para ajudar a expandir o poder das mulheres nos EUA até 2030, também destacou as desigualdades de gênero exacerbadas pela pandemia. Mais mulheres trabalham no setor de hospitalidade e varejo devastados pelo isolamento, e uma porcentagem menor de mulheres tem retomado as atividades à medida que a economia reabre.
“A outra questão é que sabemos que as mulheres desempenham 2,5 vezes mais trabalho não remunerado em casa”, como cuidar de idosos ou garantir que as crianças continuem com os estudos à distância, disse Melinda, que afirmou que os EUA é o único país industrializado que não possui uma política federal de licença médica familiar. “Não podemos reabrir essa economia da maneira que queremos, a menos que lidemos com o trabalho não remunerado. Temos de atualizar nosso pensamento. Hoje, na maioria das famílias com um filho, 64% das mulheres [com maridos] saem e trabalham. Portanto, se vamos cuidar da família e do capitalismo e da economia, é preciso resolver esse problema.”
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