A professora de ioga Marina Mártims fala sobre os benefícios da milenar prática indiana, para além do enfrentamento da crise. Enquanto a professora de meditação Flavia Schuler chama atenção para a mudança de comportamento e a qualidade de vida. Respire, relaxe e sinta a energia fluir.
MARINA MÁRTIMS & A IOGA: “O CORPO É O VEÍCULO PARA O AUTOCONHECIMENTO”
Mesmo assim, ela considera que ainda há falta de informação e uma certa resistência de algumas pessoas em relação ao ioga: “Muitos pensam que não é para elas, por conta das posturas físicas ou porque terão de abrir mão ou desapegar de algo em suas vidas. Na verdade, a única coisa necessária para essa jornada acontecer é possuir o desejo genuíno de se autoconhecer, um coração sincero e interesse pelos estudos”, explica.
Para início de conversa, ioga é para todas as idades, corpos e ideologias. Marina faz questão de esclarecer que as posturas corporais são apenas uma parte de um sistema de técnicas. “O corpo é o veículo para esse estudo sobre si mesmo, mas você pode dar ênfase aos corpos sutis como o mental, o energético, por onde conduzimos o prana (energia vital), e a meditação. Ioga é meditação.”, ensina.
Disciplina e constância fazem a prática mostrar seus benefícios já nos três primeiros meses. Além do corpo se tornar mais forte e flexível, há uma elevação da autoestima, da disposição e da energia vital, com uma diminuição do estresse crônico, que provoca insônia e ansiedade, contribuindo para melhor foco e maior concentração em atividades mentais. “Você se alimenta melhor, dorme melhor e desenvolve uma percepção sensorial mais apurada”, garante Marina.
Por onde começar na ioga? Foco na mente, para desconstruir os fatos de tensão e lidar com os pensamentos pop-up
– Ioga é a diminuição dos turbilhões da mente, então você irá experimentar uma prática meditativa que inclui movimentos e posturas gentis que poderão ser executadas em casa e com segurança.
– A supervisão de um professor qualificado é de extrema importância em casos de hipertensão, cardiopatias, hérnia de disco e problemas similares.
– Crie em seu espaço um ambiente que lhe transmita calma e alegria. Coloque algumas gotas de um óleo essencial de sua preferência nas palmas das mãos e leve às narinas. Inspire profundamente – sempre pelo nariz – e expire por três vezes.
– Recolha toda a sua dispersão sensorial para o momento presente. Controle preocupações. O importante é sentir-se acolhido e em paz.
– Sente-se de maneira confortável, com as pernas cruzadas, em uma cadeira com encosto ou no sofá. O importante é manter a coluna ereta, sem tensões nos ombros e rosto. Feche os olhos. Observe-se dos pés a cabeça, passeando por cada parte do corpo com atenção plena e desconstruindo os focos de tensão. A sua respiração (100% nasal), daqui em diante, será a sua melhor amiga.
– Inspire longo, suave e profundamente até encher os pulmões, ao expirar dobre o tempo da inspiração, esvaziando os pulmões economicamente. Assim diminui os efeitos do estresse, que prejudicam a capacidade mental e o equilíbrio emocional.
– Com as mãos em prece no centro do peito, conecte-se com o seu coração, escute-o um pouco e minimize a razão. Deixe julgamentos de lado, faça amizade com a sua mente. Pensamentos irão surgir como um “pop-up” e tudo bem! Volte o foco para a sua respiração e não entre em conflito.
– Comece com movimentos gentis nas articulações: Deixe os braços estendidos na altura dos ombros, feche as mãos e faça rotações lentas com os punhos, para fora e para dentro. O mesmo você faz com os tornozelos e pescoço.
– Os movimentos são lentos e acompanham a respiração.
Ioga na prática: aprenda a executar a Postura do Gato em casa
– Fique em seis apoios no chão: palmas das mãos bem abaixo dos ombros, joelhos na largura do quadril e dorso do pé.
– Faça uma inalação, levantando o peito e olhando para o teto. Solte todo seu peso para o ventre e arqueie bem a coluna. Em seguida, expire e empurre as mãos e os joelhos em direção ao chão, curvando as costas, redirecionando os olhos para o umbigo.
– Sugiro 10 movimentos repetidos. Parece muito? Faça menos, com presença, sem pressa, com dedicação e principalmente sem dor alguma. Faça no seu ritmo e não se esqueça de ouvir o seu corpo. Atitude, motivação e intenção são elementos preciosos para enriquecer a prática
FLAVIA SCHULER E A BUSCA PELO SILÊNCIO INTERIOR ATRAVÉS DA MEDITAÇÃO
A prática da meditação já esteve em alta em outros momentos, como na virada dos anos 1960/1970, quando virou moda – veio na bagagem dos Beatles, na volta da histórica viagem do grupo à Índia – turbinada pela celebração hippie. Nos últimos cinco anos, o verbo meditar voltou a ser conjugado por famosos e influencers em geral. “O que acontece é uma volta à introspecção, uma procura por entender quem somos e retomar hábitos mais saudáveis”, diz Flavia Schuler, praticante de meditação há 20 anos e professora da matéria há 10: “Costumo dizer que sou professora e aprendiz, porque é um conhecimento não acaba nunca”, avisa.
Formada em marketing, Flavia encontrou a meditação através do ioga, que praticava em uma academia de ginástica próxima à empresa onde trabalhava, em São Paulo. “Fui cativada pelo ioga e nunca mais parei”, conta. Ela explica que as posturas do ioga visam “pacificar o corpo para podermos meditar”. Mas foi quando viveu durante três anos na Irlanda, que Flavia decidiu dedicar-se totalmente ao ioga e à meditação: “Fiz vários cursos e continuo estudando”.
“A meditação é um retorno para o nosso silêncio interior. Um momento quando nos desligamos dos estímulos externos para entender melhor nossas emoções e pensamentos, resume Flavia. A ideia, segundo ela, é colocar ordem no nosso lar interno, colocando as coisas nos devidos lugares, trabalhando aquilo que nos incomoda, lidando com os pensamentos obsessivos que provocam estresse: “Meditar é uma pausa para se olhar para dentro”, define.
Para Flavia, a grande mudança ocorreu quando a quarentena colocou todo mundo dentro de casa e “não houve como não olhar certas sombras em nós mesmos”. Mas atenção, essas sombras não são necessariamente boas ou ruins, elas indicam aspectos que precisam ser lapidados em nós mesmos. “Espero que uma grande lição tenha sido aprendida, pois quando uma fatalidade como essa acontece no mundo, é uma oportunidade para uma expansão da consciência”, acredita ela. Aqui vão algumas dicas da “professora e aprendiz”, para acionar os processos de autoconhecimento.
Por onde começar a meditação? Reserve cinco minutos, respire e dê start na transformação
– Meditar requer o mínimo esforço. Basta sentar em uma cadeira, sofá, almofada ou na sua própria cama, fechar os olhos e relaxar o corpo como se estivesse dormindo. A mente deve continuar alerta, mas com o mínimo esforço.
– Respiração é fundamental, pois é a ferramenta que faz diminuir o fluxo do pensamento.
– Inspire por quatro segundos, segure a respiração por dois segundos e expire em dois. Repita esse ciclo quatro vezes. Esse é o exemplo mais prático de meditação.
– Existem diversas técnicas de meditação, como o mindfullness (atenção plena, estar no momento presente), os mantras (sons entoados para elevar a consciência, como o mantra OM), músicas, técnicas de visualização, etc.
– Na cama, ao acordar, acesse seu aplicativo de meditação, e medite por cinco minutos, para começar bem o seu dia.
– Apps de meditação: Insight Timer (o maior do mundo e gratuito), Headspace, Sattva, Calm, Vivo Meditação e Positiv (ambos em português). Além de conteúdo de meditação gratuito no YouTube e Spotify.
– Crianças podem meditar a partir de 9 anos, mas com um professor.
– Meditar pela manhã para começar o dia com bom humor e otimismo. Meditar à noite para fazer um balanço do dia, relaxar e dormir bem.
Flavia conta que para cada pessoa existe uma técnica de meditação adequada. São várias as formas de conduzir alguém ao encontro do que pode mudar a sua vida. E conclui: “No fundo, todos nós queremos ser melhores, mais amorosos, e tranquilos. Por isso é preciso descobrir o melhor dentro de nós e trazê-lo para o mundo”.
Donata Meirelles é consultora de estilo e atua há 30 anos no mundo da moda e do lifestyle
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