Como lidar com essas frustrações? Essa é uma pergunta essencial, que não tem uma resposta exata, cartesiana. Mas é justamente o tipo de solução que damos em resposta aos desapontamentos que pode nos fazer sair melhor e mais fortes deles ou nos paralisar, impedindo que sigamos em frente.
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Eu havia optado por não correr a maratona inteira, mas a meia, um pouquinho mais do que 21 km. Eu já fiz dezenas de meias maratonas e, mesmo sabendo que havia me preparado para correr só aquela quilometragem, finalizei com um certo gosto amargo na boca. Eu tinha feito um tempo bem acima do que costumava fazer antes do coronavírus, com uma sensação de que poderia ter me saído melhor.
Eu poderia ter terminado a prova me sentindo menor, me culpando por não ter conseguido bater os tempos que tinha me colocado como objetivo. Eu não fiz isso, não me deixei abater por aquele meu resultado. Esqueci o tempo final e fui comemorar a bela prova que tinha acabado de completar.
O meu técnico sempre fala que nesse esporte de correr não há atalhos. A vida, assim como a corrida, é uma tarefa penosa, mas é encarando as dificuldades que ela nos coloca que, nós, pessoas comuns – assim como os atletas – conseguimos melhorar o nosso desempenho em todos os aspectos.
É possível, sim, cultivar nossas atitudes e emoções frente às frustrações que vivemos diariamente. Os atletas profissionais fazem isso rotineiramente. Faz parte do que chamamos de construção de resiliência. Ao invés de acharem algo ou alguém para responsabilizar por aquela frustração, se voltam para eles mesmos para encontrar o que podem melhorar.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.