Liderado pela antropóloga da Universidade de Montreal Ariane Burke, um grupo de arqueólogos, geógrafos e cientistas do Canadá, dos Estados Unidos e da França destacou, na última semana, a importância de uma disciplina relativamente nova: a arqueologia das mudanças climáticas.
No entanto, a disciplina se concentra não na biodiversidade, mas na diversidade cultural. Ariane, que é diretora científica do Hominin Dispersals Research Group e do Laboratório de Ecomorfologia e Paleoantropologia da Universidade de Montreal, explicou para a Forbes o que isso significa.
“Falamos muito sobre a importância da diversidade biológica, mas também devemos estar cientes de como nós, como espécie, adotamos uma ampla variedade de estratégias diferentes para viver neste planeta”, diz. “A mudança climática global não afeta a todos da mesma forma. O mesmo evento terá impactos diferentes em escalas regionais e locais. Isso significa que a arqueologia das mudanças climáticas é uma fonte potencialmente rica de informações sobre como eventos em escala global podem afetar regiões menores e uma fonte de estratégia para lidar com as mudanças climáticas no futuro.”
Exemplos disso podem ser encontrados em certas práticas agrícolas tradicionais, que possuem a capacidade de oferecer alternativas válidas para ajudar a tornar a agricultura industrial mais sustentável. Um caso notável sobre o assunto é a recente readoção de alimentos antigos como a quinoa, alimento básico dos incas por cerca de 5.000 anos, que tem “uma adaptabilidade extraordinária a diferentes regiões agroecológicas”, incluindo ambientes áridos.
E não é apenas na agricultura que a arqueologia pode nos ensinar sobre estratégias de adaptação ao clima. Grupos indígenas da Austrália mostraram como as estratégias tradicionais de manejo do fogo podem reduzir enormemente o risco de incêndios florestais catastróficos, como os que estão devastando o oeste dos Estados Unidos e o Canadá.
Em outro lugar, arqueólogos como Jennifer Pournelle, da Universidade da Carolina do Sul, argumentaram que eventos climáticos catastróficos, como o aumento do nível do mar na Mesopotâmia, podem ter sido catalisadores para uma reorganização completa da sociedade, levando a trabalhos de irrigação em grande escala que possibilitaram o nascimento das primeiras cidades. Outros estudos demonstraram o papel da mudança climática no colapso de alguns dos grandes impérios do mundo, como o Império Khmer, no Sudeste Asiático.
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“É a variedade de estratégias que funcionaram no passado que é interessante, pois nos fornece uma gama de soluções possíveis para os problemas que enfrentamos atualmente”, explicou. “Os modeladores climáticos também usam o passado como um campo de testes, onde podem tentar modelar sistemas climáticos muito diferentes dos de hoje, como o rápido aquecimento que ocorreu entre 14.700 e 12.700 anos atrás. Isso os ajuda a modelar possíveis resultados das mudanças climáticas no futuro.”
Ariane concluiu dizendo que a arqueologia poderia oferecer aos seres humanos algo diferente da desgraça e da tristeza em face das crescentes crises climáticas. Ainda há esperança”, disse ela. “As pessoas têm experimentado soluções para as mudanças climáticas há milênios. Algumas delas enfrentaram condições muito piores do que hoje, mas sobreviveram e até floresceram. Podemos olhar para o passado em busca de inspiração e soluções práticas para tomar decisões informadas para o futuro.”
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