O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, afirmou hoje (27) que a mensagem de política monetária do BC segue a mesma do comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) da semana passada, o que deixa de pé a possibilidade de elevar a taxa básica de juros à frente, caso haja piora no cenário para a inflação. Em coletiva de imprensa, Ilan também se esquivou de comentar o cenário político, marcado pela proximidade das eleições presidenciais, e suas eventuais implicações. “O comitê entendeu que a política monetária deveria continuar sendo estimulativa. Agora, esse estímulo começará a ser removido gradualmente, caso o cenário para a inflação apresente piora”, disse.
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Na semana passada, o Copom manteve os juros na mínima histórica de 6,5%, tendo como pano de fundo um balanço de riscos assimétrico. Na última pesquisa Focus, feita pelo BC junto a uma centena de economistas, as projeções ainda são de que a Selic seguirá nesse patamar até o final do ano, subindo a 8% em 2019. Já no mercado futuro de juros, a curva a termo passou a precificar na manhã de hoje apostas majoritárias de alta de 0,25 ponto percentual da Selic em outubro, com 55% do total, e o restante indicando avanço de 0,50 ponto percentual, segundo operadores. Na véspera, 60% das apostas eram de alta de 0,50 ponto e o restante, de 0,25 ponto.
De um lado, Ilan apontou que a capacidade ociosa hoje existente pode surpreender e levar a uma inflação mais baixa. No entanto, ressaltou que há dois riscos para os quais o BC já vê aumento: a frustração sobre a continuidade das reformas e ajustes e um cenário internacional mais incerto, especialmente para países emergentes. “Temos comunicado que os riscos de alta da inflação se elevaram e portanto isso tornou o balanço de riscos assimétrico”, disse.
O presidente do BC enfatizou que as mudanças estruturais na economia são essenciais para a manutenção da inflação baixa no médio e longo prazo e para recuperação da atividade. As preocupações com o comprometimento do próximo presidente eleito em tocar essa agenda têm injetado volatilidade nos mercados, ajudando a impulsionar a alta do dólar frente ao real.
Sobre a política do BC em relação ao câmbio, Ilan também disse que nada mudou e que a autoridade monetária seguirá monitorando os mercados para identificar eventual excesso de volatilidade. Ele reiterou a importância de manter as expectativas de inflação ancoradas, apontando que este é trabalho e objetivo do Copom. “Isso é importante para poder lidar com os choques, o repasse cambial também depende de as expectativas estarem ancoradas ou não”, disse. “Ponto importante é mensagem de que repasse cambial é objeto que pode mudar ao longo do tempo e é algo que tem que ser acompanhado, como o Copom tem comunicado”, acrescentou o diretor de Política Econômica do BC, Carlos Viana, também presente na coletiva.
No Relatório Trimestral de Inflação, publicado mais cedo nesta manhã, o BC destacou que o grau de repasse cambial ao aumento de preços na economia tende a ser atenuado pela ancoragem das expectativas de inflação, atividade econômica fraca e ociosidade das empresas, reforçando que a escalada do dólar frente ao real será analisada a fundo antes de motivar eventual elevação nos juros básicos.
Futuro do BC
Bastante questionado a respeito do cenário político e sua influência para a política monetária e sobre eventual permanência no comando do BC no próximo governo, Ilan ponderou que a instituição é apartidária e que quer ser neutra para o país. “Isso não me permite entrar nessas considerações sobre campanhas, convites. Vou continuar na mesma linha de não comentar”, afirmou.
Ilan também falou que não se manifestaria sobre qualquer proposta dos candidatos à Presidência, pois não queria o BC se posicionando a favor ou contra. “Agora, quando a gente diz que precisa de reformas fiscais e precisa de reformas de produtividade, isso não é novo e continuamos achando que isso vai ajudar o BC”, afirmou.
Sobre as reuniões das quais participou com assessores econômicos dos principais presidenciáveis, Ilan afirmou que não foram firmados compromissos. Segundo o presidente do BC, os encontros foram importantes “para pensar na transição”.