Por que o turismo polar é o destino mais desejado

11 de novembro de 2020
Anna_Om/ Getty Images

A procura por viagens ao Ártico e à Antártida aumentou por conta de segurança e isolamento dos locais

O turismo nas regiões polares não é novidade. Está disponível há décadas. Historicamente, a viagem polar, tanto no Ártico como na Antártida, era feita por navios de cruzeiro que navegavam ao longo da periferia das calotas.

Era possível escolher entre cruzeiros luxuosos que viajavam pela região antes de retornar ao porto ou navios de “expedição” que permitiam chegar realmente perto das calotas –embarcações geralmente antigas, quebra-gelos (tipicamente russos) que haviam sido modificados para transportar convidados.

LEIA MAIS: Os 20 melhores destinos de viagem para 2021

Na última década, as viagens polares mudaram dramaticamente. Em primeiro lugar, navios de “expedição” de luxo foram lançados por várias operadoras de cruzeiros, como as gigantes Ponant, Silversea e Viking.

Além disso, empresas de cruzeiro de expedição da região acabaram com os antigos quebra-gelos e os converteram em navios de cruzeiro de luxo especialmente projetados para operar em ambientes polares.

A Quark Expeditions, empresa americana que oferece exclusivamente essas expedições, por exemplo, lançou recentemente o Ultramarine, um navio que oferece as mesmas comodidades e acomodações típicas de cruzeiros de luxo e também vem com dois helicópteros a bordo e uma pequena frota de botes infláveis.

O aquecimento global também tem sido um fator determinante para o turismo ártico, abrindo novos itinerários no Ártico canadense e na costa da Groenlândia e tornando possível (embora não tão seguro) o trânsito entre as passagens noroeste e nordeste.

A Rússia também abriu viagens no Ártico russo para turistas. Moscou historicamente bloqueou o acesso de turistas àquela região por motivos militares. A Quark agora oferece um itinerário que atravessa o Ártico russo, de Murmansk a Severnaya Zemlya.

LEIA MAIS: 8 praias paradisíacas para curtir a primeira viagem pós-pandemia

No entanto, são os pólos que estão entre os destinos de viagem mais desejados de 2020. Hoje, é possível viajar tanto para o Pólo Norte como para o Pólo Sul. Não é barato, custando entre US$ 30 mil e US$ 100 mil, mas é mais em conta do que costumava ser. Essas viagens também o colocarão em um clube muito exclusivo. Apenas algumas centenas de turistas viajaram para ambos os destinos.

Um dos aspectos incomuns da viagem polar é que a posição geográfica dos pólos significa que há vários pontos de partida. A viagem para as regiões árticas normalmente começam no Canadá, Islândia, Noruega (em Tromsø) ou Rússia (em Murmansk), enquanto a viagem para a Antártica normalmente começa no Chile (em Punta Arenas), Argentina (em Ushuaia), Austrália (na Tasmânia), Nova Zelândia (em Invergordon) ou África do Sul (na Cidade do Cabo).

Recentemente, sentei-me com um grupo de operadoras de turismo internacionais para falar sobre tudo o que você precisa saber das viagens polares.

De acordo com Wendy Batchelor, vice-presidente de marketing da Quark Expeditions, o interesse nas viagens polares tem crescido na última década por uma série de razões. “Para muitos, as regiões polares representam as últimas fronteiras restantes para se explorar. Esses domínios são realmente amplamente inexplorados. A oportunidade de colocar os pés em uma parte exótica do mundo onde poucos humanos estiveram (se ainda houver alguma) alimenta as paixões de muitos viajantes experientes.

À medida que as viagens polares crescem exponencialmente, os consumidores estão aprendendo sobre as incríveis aventuras que os aguardam no Ártico e na Antártica. A incrível vida selvagem nas regiões polares –como pinguins, ursos polares ou pássaros, dependendo de qual pólo se visita– é absolutamente deslumbrante de se ver em seu ambiente natural.

Cada vez mais viajantes registram suas aventuras polares por causa do isolamento das regiões polares. Nas viagem da Quark, por exemplo, não há portos lotados de itinerários para Ártico ou Antártida, apenas pequenas comunidades de povos nativos e bases de pesquisa. Em uma época em que saúde e segurança são fundamentais, as regiões polares estão entre os lugares mais seguros para se visitar.”

Jamie Lynn Ensey, diretora de Marketing da Antarctica21, uma operadora de viagens com sede no Chile, observa: “Existem mais rotas para chegar à Antártida do que nunca. Por exemplo, a Antarctica21 tornou possível voar para a Antártida, e participar de um navio de expedição. Oferecemos essa alternativa confortável desde 2003”.

LEIA MAIS: Viking Cruises lança canal de experiências de viagem online

Patrick Woodhead, CEO da White Desert, uma operadora de viagens da Cidade do Cabo, África do Sul, também oferece voos de avião para o continente Antártico, com a oportunidade de passar a noite em um acampamento de tendas de luxo.

Todas as três empresas afirmam que os turistas norte-americanos normalmente ocupam cerca da metade dos espaços disponíveis, e os chineses um quarto. O restante se divide em várias nacionalidades.

Segundo Batchelor, no passado, os viajantes polares eram de uma geração mais velha –os norte-americanos e europeus ocidentais que tinham recursos e tempo para essas viagens de expedição, geralmente aposentados. “Mas os últimos anos mudaram o perfil dos visitantes, e temos hóspedes de todas as faixas etárias e de origens culturais, religiosas e profissionais muito diversas. Uma grande tendência que também observamos são os viajantes individuais que reservam essas expedições.”

Visitar os pólos normalmente envolve uma combinação de viagens marítimas ou aéreas, dependendo do destino e do orçamento. “Para chegar ao Pólo Sul, os viajantes precisarão reservar um pequeno avião que possa pousar no gelo próximo, onde poderão explorar a base de pesquisa lá, se o clima permitir. Essas viagens podem custar a partir de US$ 50 mil”, diz Batchelor.

Patrick Woodhead’s, da White Desert, pode levá-lo da Cidade do Cabo ao Pólo Sul em um jato executivo Gulfstream G550 para 12 passageiros por cerca de US$ 90 mil. No ano passado, eles fizeram cerca de 20 viagens e levaram cerca de 250 pessoas ao Pólo Sul. No total, ele estima que apenas alguns milhares de turistas foram ao destino.

LEIA MAIS: 9 melhores resorts para férias particulares pós-pandemia

A viagem da Cidade do Cabo pela África do Sul à Antártida leva cinco horas, e a viagem até o pólo leva mais sete horas. A excursão faz parte de um itinerário mais longo de oito dias.

A Polar Explorers opera um itinerário de sete dias que vai levá-lo de Punta Arenas, no Chile, ao Pólo Sul, e você pode passar a noite lá por cerca de US$ 50 mil.

Apenas alguns operadores turísticos oferecem voos para o Pólo Sul. A International Association of Antarctica Tour Operator (IAATO) tem uma lista de todas as operadoras de turismo que atuam na Antártida.

Mesmo se você não estiver planejando ir até o Pólo Sul, a viagem à Antártida ainda o coloca em um pequeno grupo de elite.

A Antarctica21 não oferece viagens para o Pólo Sul, mas tem passeios para outros destinos da Antártida. De acordo com a diretora, o local recebia cerca de 85 mil turistas por ano. Ela também destaca que os navios de cruzeiro de expedição não têm permissão para descarregar mais de cem passageiros de uma vez no continente. Então, a reserva de um navio menor é essencial se você deseja ir ao continente.

Viajar para o Pólo Norte é comparativamente mais fácil. Para uma lista completa dos operadores de cruzeiros de expedição no Ártico, consulte a lista de membros da Associação de Operadores de Cruzeiros do Ártico (AECO).

LEIA MAIS: Conheça 10 resorts de luxo para viagens super exclusivas

A Polar Explorers sai de Longyearbyen, nas Ilhas Svalbard da Noruega. As ilhas estão localizadas bem acima do Círculo Polar Ártico, a meio caminho entre o Cabo Norte, o ponto mais setentrional da Europa, e o Pólo Norte. O voo de duas horas e meia pousa na flutuante Estação Polar Barneo, localizada a cerca de 50 milhas do Pólo Norte. A etapa final é uma viagem de helicóptero de 45 minutos. A Polar Explorers oferece uma viagem de três dias por cerca de US$ 30 mil.

A outra alternativa para alcançar o pólo é pegar um navio quebra-gelo de expedição de Murmansk, na Rússia, por cinco a sete dias. De acordo com Batchelor: “A Quark Expeditions é uma das duas únicas operadoras que oferecem expedições ao Pólo Norte para turistas, e normalmente se fazem duas viagens a cada verão. A melhor maneira de chegar ao Pólo Norte é a bordo do ‘50 Years Of Victory’, um dos quebra-gelos nucleares mais poderosos do mundo, e abrir caminho através do oceano Ártico congelado por cinco a sete dias até chegar a 90° Norte. Uma vez lá, os viajantes passam um dia caminhando sobre o gelo, desfrutando de um churrasco especial oferecido pela tripulação, e podem até dar um mergulho no oceano abaixo de zero se tiverem coragem. O navio tem capacidade para 160 passageiros”.

A Quark oferece uma expedição de 14 dias ao Pólo Norte durante o verão de 2021, a partir de US$ 31.995.

Se você quer viajar para os pólos, é melhor começar a planejar sua viagem com bastante antecedência, de preferência dois anos. O espaço é limitado. As operadoras geralmente oferecem descontos substanciais se você reservar com um ano ou mais de antecedência.

Em teoria, você pode fazer os dois pólos no mesmo ano, já que as temporadas de viagem se espelham. Se sua conta bancária aguentar, você entraria em um clube de pessoas muito exclusivo. Estima-se que apenas algumas dezenas de turistas tenham visitado os dois pólos no mesmo ano.

LEIA MAIS: Lalique Hotel & Restaurant promove enoturismo sofisticado na região de Sauternes

Só há mais uma última pergunta a se fazer. Se você chegar aos pólos, com que bebida vai comemorar? De acordo com a maioria dos operadores turísticos, champanhe é a primeira escolha, seguido por vodca. O destilado está intimamente associado a ambientes frios.

Você pode até usar gelo polar para gelar seu martini. No Pólo Norte, é provável que o gelo tenha apenas cerca de cinco a dez anos, mas no Pólo Sul, especialmente na Estação do Pólo Sul Amundsen-Scott, você pode encontrar gelo incrivelmente denso que tem centenas de anos. Isso certamente daria um martini interessante. Dado o custo para chegar lá, seria facilmente um dos coquetéis mais caros do mundo.

Siga FORBES Brasil nas redes sociais:

Facebook
Twitter
Instagram
YouTube
LinkedIn

Siga Forbes Money no Telegram e tenha acesso a notícias do mercado financeiro em primeira mão

Baixe o app da Forbes Brasil na Play Store e na App Store.

Tenha também a Forbes no Google Notícias.