O estado da saúde mental de empreendedores foi investigado em um novo estudo que analisa diversos aspectos das mudanças vividas por fundadores nos meses desde a emergência da pandemia, e os desdobramentos na vida pessoal destes líderes de negócios.
Elaborado pela Troposlab, empresa especializada em inovação, em parceria com pesquisadores da Faculdade de Farmácia e do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o estudo ouviu 653 empreendedores através de uma coleta online em quase todos os estados brasileiros (exceto Rondônia) em junho deste ano.
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A pesquisa, obtida com exclusividade pela Forbes, mostra que mulheres à frente de seus próprios negócios reportaram experiências de sofrimento mental mais frequentemente que homens. Os resultados do estudo mostram que 28,5% das fundadoras apresentam sintomas de ansiedade, em comparação a 22,2% dos homens consultados. Empreendedoras também citaram mais frequentemente que sofrem de depressão: 10,4% das mulheres consultadas, em comparação a 3,4% dos homens.
Em relação à gravidade dos sintomas, 80% dos empreendedores apresentam níveis baixos de ansiedade, estresse e depressão. Cerca de 6% apresentam níveis severos destes sintomas. A necessidade de ajuda profissional para tratar estes problemas e o início do uso de medicamentos, como antidepressivos e ansiolíticos, nos últimos meses foi relatada por 15,6% dos entrevistados.
Os pesquisadores notaram que o estado de saúde mental dos empreendedores brasileiros consultados é comparável ao de profissionais de saúde do estado de Minas Gerais, que estão amplamente expostos às consequências diretas da pandemia e também responderam à pesquisa no período.
A maioria dos negócios liderados pelos empreendedores consultados (70,6%) está na região Sudeste. Um total de 36,4% afirmou liderar negócios tradicionais, ao passo que 26% são profissionais liberais/autônomos e 18,4% possuem um negócio de base tecnológica (startup).
Dos empreendedores consultados, 35% faturam até R$ 81 mil com suas empresas, enquanto 24% lideram microempresas, com faturamento anual de até R$ 360 mil ao ano. Pequenas empresas que faturam até R$ 4,8 milhões por ano representam 22,8% dos participantes da pesquisa, enquanto empresas de até cinco colaboradores são 43,8% dos empreendedores consultados. Intraempreendedores, ou seja, pessoas que estão desenvolvendo novos negócios dentro de uma empresa existente, representam 28,3% dos participantes do estudo.
A maioria dos participantes (70,1%) afirmou estar seguindo as orientações de distanciamento social há mais de dois meses e 80,25% estão acompanhados por familiares. Destes, 59,72% só saem de casa quando é inevitável, e a maioria (74,6%) disse ter pouco ou nenhum medo de se infectar com a Covid-19.
No entanto, 51,1% dos empreendedores disseram ter a vida afetada pela pandemia, ou muito afetada (24,9%). E a grande maioria, 72,9%, reportou queda no rendimento familiar após o início da crise, com 29,2% destes reportando uma redução de mais de 50% na renda. A incerteza para os negócios também é uma constante, com mais de 81% dos empreendedores afirmando que a pandemia trouxe um ambiente mais incerto para seus negócios.
O estudo estabelece uma correlação entre aspectos como a percepção de incerteza, a diminuição de faturamento e o tipo de negócio e a queda no rendimento familiar, e a piora nas condições de saúde mental dos empreendedores. Além disso, os pesquisadores levantam a hipótese de negócios tradicionais e empreendedores autônomos tiveram o maior impacto em saúde mental na crise, por razões como a falta de canais digitais alternativos de geração de receita, bem como baixa resiliência financeira.
Uma tese levantada no estudo é que quanto mais o empreendedor percebe seu ambiente como incerto, maior o sofrimento psicológico. Por outro lado, os pesquisadores notam que, quando mais o o empreendedor percebe que possui estratégias pessoais para lidar os percalços da crise, menores são os seus níveis de adoecimento psicológico.
Os estados onde empreendedores reportaram níveis de sofrimento psicológico mais altos incluem São Paulo, Goiás e Distrito Federal. Regionalmente, o Nordeste apresentou a tendência a uma média mais elevada de estresse e depressão em relação à região Sul do país.
O estudo da Troposlab e UFMG falou com empreendedores de 39 anos em média, de um perfil homogêneo. Um pouco mais da metade (51,5%) é formada por mulheres, a maioria (60%) é casada ou em união estável e 56,4% têm filhos. A maioria dos consultados se autodeclarou branco (66,5%) e heterossexual (89,3%). A falta de representatividade, em aspectos como raça, é reconhecida pelos pesquisadores como um fator limitante para o estudo.
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