Em 2015, haverá recessão no Brasil?

FORBES Brasil questionou dois analistas a respeito

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Haverá recessão no Brasil? E, caso ela venha, será intensa ou suave? FORBES Brasil questionou dois analistas  a respeito – e suas previsões não são exatamente tranquilizadoras. Veja a seguir:

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  • Cleveland Prates Teixeira

    Sócio-diretor da Pezco Microanalysis: “Uma questão-chave que enfrentamos hoje é a atua-ção excessiva do governo na economia. Primeiro, há o excesso de gastos públicos, o que tem provocado a redução dos investimentos privados devido à elevação dos juros gerada pela grande demanda vinda do governo. Segundo, há as constantes mudanças de regras. Terceiro, existe a intervenção estatal direta na economia por meio de políticas discricionárias que escolhem ‘campeões nacionais’ sem seguir o mínimo critério de eficiência. O resultado é a distorção do processo competitivo e a elevação da concentração econômica, o que implica maiores preços aos consumidores. Note-se que, nesse último aspecto, o promotor do processo é o BNDES, que ao captar recursos no mercado e repassá-los a juros subsidiados também desestimula a constituição de um mercado de capital de longo prazo. Nesse cenário, há dois caminhos possíveis para o próximo governo. O primeiro é um ajuste de rota, cujos efeitos sejam sentidos em sua maior parte no longo prazo, mas cuja sinalização traga reversão de expectativas e retomada dos investimentos. Esse ajuste envolve: reduzir o nível de gastos públicos, inclusive retirando o governo de áreas que são típicas da iniciativa privada; encerramento do processo de ‘contabilidade criativa’ nas contas públicas; definição de regras claras para setores de infraestrutura, conferindo independência de fato às agências reguladoras; início de um processo de reformas microeconômicas; revisão da política industrial; e, por fim, início de um processo gradual de abertura comercial.
    Já o segundo caminho consiste em dobrar a atual aposta. Mais crédito seletivo, mais controle sobre a infraestrutura via uso de empresas públicas, mais limitações à importação, mais intervenção no câmbio, juros nos patamares atuais e mais gastos públicos com ‘contabilidade criativa’. Nesse caso, apesar de entrarmos em uma recessão pior no longo prazo, no curto (período de um ano) teríamos uma economia que apenas patinaria, com baixo crescimento, inflação crescente e baixo nível de investimento privado. Em princípio, isso seria administrável por um período de até dois anos – mas não mais. Concluindo, minha previsão é a de um 2015 conturbado, mas não de profunda recessão. Entretanto, será quando definiremos o tamanho do buraco que entraremos nos anos subsequentes. Mais precisamente, o tamanho da aposta de 2015 definirá a performance da economia em 2016 e o que virá em termos econômicos e políticos depois.

  • Mônica de Bolle

    Sócia-diretora da Galanto MBB Consultoria:“Há um consenso entre analistas – incluo-me nele – que a economia brasileira atingiu tal grau de desarrumação que, para ajustá-la, algum sofrimento será inevitável. Portanto, estou entre os que creem que será difícil escapar de um quadro recessivo no próximo ano. Quão intensa pode ser a recessão brasileira em 2015? Mais forte ou mais fraca do que a que se seguiu à crise de 2009?
    Nos últimos quatro anos, diversos desmontes foram feitos: o regime de metas de inflação já não funciona como funcionava até 2008, 2009 e 2010; a solidez das contas públicas foi posta em xeque devido às operações sequenciais de ‘contabilidade criativa’; balanços de bancos públicos cresceram além da conta e foram misturados com balanços do Tesouro, do setor elétrico, da Petrobras. Tudo isso teria de ser consertado (o que já provocaria algum baque no desempenho econômico), mas o governo não parece crer que suas políticas tenham sido erradas e responsáveis por esse quadro de baixo crescimento e inflação renitente que hoje nos aflige. Em outro cenário, um grande esforço de rearrumação terá de ser feito. Trata-se não só de resgatar a credibilidade da política monetária e fiscal como também de desembaralhar os balanços já mencionados. Tal esforço há de afetar negativamente a atividade em 2015, mas com a ressalva de que, dali em diante, a percepção poderá vir a ser de melhora. Mas mesmo nesse caso penso que o Brasil não escapa de uma recessão, ainda que mais branda. É lamentável que o país tenha chegado a esse ponto após todos os esforços feitos por sucessivos governos na área econômica. Contudo, é demasiado ingênuo pensar que, com tantos desajustes internos e um quadro externo ainda complicado, o Brasil possa ter um desempenho econômico razoável em 2015.

Cleveland Prates Teixeira

Sócio-diretor da Pezco Microanalysis: “Uma questão-chave que enfrentamos hoje é a atua-ção excessiva do governo na economia. Primeiro, há o excesso de gastos públicos, o que tem provocado a redução dos investimentos privados devido à elevação dos juros gerada pela grande demanda vinda do governo. Segundo, há as constantes mudanças de regras. Terceiro, existe a intervenção estatal direta na economia por meio de políticas discricionárias que escolhem ‘campeões nacionais’ sem seguir o mínimo critério de eficiência. O resultado é a distorção do processo competitivo e a elevação da concentração econômica, o que implica maiores preços aos consumidores. Note-se que, nesse último aspecto, o promotor do processo é o BNDES, que ao captar recursos no mercado e repassá-los a juros subsidiados também desestimula a constituição de um mercado de capital de longo prazo. Nesse cenário, há dois caminhos possíveis para o próximo governo. O primeiro é um ajuste de rota, cujos efeitos sejam sentidos em sua maior parte no longo prazo, mas cuja sinalização traga reversão de expectativas e retomada dos investimentos. Esse ajuste envolve: reduzir o nível de gastos públicos, inclusive retirando o governo de áreas que são típicas da iniciativa privada; encerramento do processo de ‘contabilidade criativa’ nas contas públicas; definição de regras claras para setores de infraestrutura, conferindo independência de fato às agências reguladoras; início de um processo de reformas microeconômicas; revisão da política industrial; e, por fim, início de um processo gradual de abertura comercial.
Já o segundo caminho consiste em dobrar a atual aposta. Mais crédito seletivo, mais controle sobre a infraestrutura via uso de empresas públicas, mais limitações à importação, mais intervenção no câmbio, juros nos patamares atuais e mais gastos públicos com ‘contabilidade criativa’. Nesse caso, apesar de entrarmos em uma recessão pior no longo prazo, no curto (período de um ano) teríamos uma economia que apenas patinaria, com baixo crescimento, inflação crescente e baixo nível de investimento privado. Em princípio, isso seria administrável por um período de até dois anos – mas não mais. Concluindo, minha previsão é a de um 2015 conturbado, mas não de profunda recessão. Entretanto, será quando definiremos o tamanho do buraco que entraremos nos anos subsequentes. Mais precisamente, o tamanho da aposta de 2015 definirá a performance da economia em 2016 e o que virá em termos econômicos e políticos depois.

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