A inflação deu o maior salto em 28 anos para um mês de março, sob o impacto da alta dos combustíveis e com disseminação generalizada por vários grupos de produtos e serviços, e atingiu 11,30% em 12 meses, acima do esperado pelo mercado e mais de três vezes a meta do governo para o ano.
O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) subiu 1,62% em março, maior taxa para o mês desde março de 1994, antes da implantação do Plano Real, e maior alta para qualquer mês desde janeiro de 2003 (2,25%), informou o IBGE hoje (8).
O maior peso para o índice voltou a ser combustíveis, que tiveram alta de 6,70% – após um recuo de 0,47% no mês anterior – depois de novo reajuste de preços da Petrobras no mês passado em meio à alta do petróleo no mercado internacional por causa do choque de oferta gerado pela guerra na Ucrânia.
A leitura em 12 meses, de 11,30%, contra 10,54% do mês anterior, foi a maior desde outubro de 2003 (13,98%) e bem acima da meta de inflação para o ano, de 3,5%, que tem uma margem de tolerância de 1,5 ponto para mais ou para menos.
Os dados de março também vieram acima das expectativa de analistas, que previam alta de 1,30%, acumulando em 12 meses avanço de 10,98%.
A prévia do IPCA já havia surpreendido o mercado, com a maior alta em sete anos. O dado fechado do mês traz agora novas pistas sobre a possibilidade de o Banco Central manter estratégia já sinalizada de encerrar seu ciclo de aperto monetário em maio, com uma alta de 1 ponto percentual da Selic, que chegaria assim a 12,75%.
Ontem (7), o presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, afirmou que a calibragem da política monetária dependerá da extensão dos choques e ressaltou que a inflação está descolando muito da meta e se disseminando.
No final de março, Campos Neto chegou a prever que o pico da inflação deveria ocorrer em abril, tocando 11% em 12 meses –patamar já superado no mês passado. O Copom volta a se reunir em 3 e 4 de maio.
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Oito dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados tiveram alta em março, liderados por Transportes, com alta de 3,02%. O grupo Alimentação e bebidas teve a segunda maior alta do mês, de 2,42%. O único grupo que apresentou variação negativa nos preços foi Comunicação, com -0,05%.
“A gasolina puxou o IPCA e alavancou o índice como um todo. A inflação também ficou mais disseminada, está mais espalhada, isso é algo que vem acontecendo este ano”, disse o gerente da pesquisa do IPCA no IBGE, Pedro Kislanov, ressaltando o impacto do aumento dos fretes sobre os preços de uma forma geral, e sobre os alimentos em particular.
O índice de difusão da inflação, que mede a disseminação da alta dos preços, atingiu 76,1% no mês, maior patamar desde fevereiro de 2016 (77,2%).
“Este dado do IPCA mostra claramente uma deterioração das perspectivas de inflação, o que evidentemente está surpreendendo o BC para cima”, disse o banco Citi em relatório.
O dólar ensaiou queda após a divulgação do dado de inflação, com investidores avaliando possibilidade de uma postura mais agressiva por parte do Banco Central, embora tenha devolvido essas perdas, conforme analistas também ponderavam o impacto da alta dos preços sobre o crescimento e os investimentos.