O criador de Game of Thrones e House of the Dragon escreveu uma crítica pública e severa sobre algumas mudanças na segunda temporada de House of the Dragon.
Em seu blog, George R.R. Martin escreveu que mais alterações “tóxicas” estão por vir nas temporadas 3 e 4. Martin nunca se manifestou tão criticamente sobre o assunto, nem mesmo quando o público reprovou as últimas temporadas de Game Of Thrones.
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Às vezes, borboletas se transformam em dragões
Em uma publicação intitulada “Cuidado com as Borboletas”, Martin explica como pequenas mudanças no início de uma adaptação podem se transformar em desfechos completamente diferentes (e potencialmente muito piores) no fim da história. Martin abordou isso antes, em 2015, quando os fãs ficaram descontentes com os abusos de Ramsay Snow com Sansa Stark, algo que não acontece nos livros. Ele escreveu:
“Houve diferenças entre os romances e o programa de televisão desde o primeiro episódio da primeira temporada. E há muito tempo falo sobre o efeito borboleta. Pequenas mudanças levam a mudanças maiores, que levam a mudanças enormes. A HBO (Max) tem a tarefa impossível e exigente de adaptar meus romances extensos (extremamente) e complexos (excessivamente), com suas camadas de enredos e desenredos, suas contradições e narradores não confiáveis, mudanças de ponto de vista, ambiguidades e um elenco de centenas de personagens.”
“Raramente houve uma série de TV tão fiel ao seu material de origem, em geral. Mas quanto mais o show avança, maiores se tornam as borboletas. E agora chegamos ao ponto em que o bater das asas das borboletas está criando tempestades.”
Agora, ele volta sua atenção para House of the Dragon e os grandes efeitos borboleta que ocorrem à medida que o show se desvia cada vez mais da história contada em Blood & Fire (Fogo & Sangue), a ‘história falsa’ de Martin sobre a dinastia Targaryen.
Movimente-se como uma borboleta, pique como uma abelha
Por muito tempo, as mudanças pareciam expandir os personagens e, especialmente, estabelecer uma dinâmica interessante sobre a amizade e rivalidade entre Rhaenyra e Alicent, além de criar uma versão muito mais rica do Rei Viserys I (o qual Martin elogiou extensivamente, dizendo que gostaria que essa versão estivesse no livro).
No entanto, no final da segunda temporada, as coisas desandaram. Apesar dos momentos ótimos, ficou claro que algo estava errado.
Na nova publicação, Martin foca na cena do primeiro episódio da segunda temporada, Blood and Cheese (Queijo e Sangue), embora ele tenha discutido outras mudanças (em termos mais vagos) antes — sobre como os dragões não deveriam estar no Vale, onde Rhaena aparentemente está prestes a se conectar com Sheepstealer, por exemplo.
No livro, quando os assassinos contratados por Daemon Targaryan chegam ao quarto de Helaena, há outro filho da rainha presente, o príncipe Maelor, que tem apenas dois anos. Na versão original, Queijo e Sangue deixam a rainha decidir qual dos meninos vai morrer. Ela escolhe Maelor para preservar a vida do herdeiro. “O aspecto ‘Escolha de Sofia’ era a parte mais forte da sequência”, escreveu Martin. “A mais sombria, a mais visceral. Eu odiei perder isso. E, a julgar pelos comentários online, a maioria dos fãs concordou.”
O autor foi inicialmente informado pelo showrunner Ryan Condal que os produtores estavam apenas adiando a introdução desse personagem, mas agora vão cortá-lo completamente da história. Isso, Martin argumenta, terá grandes consequências no futuro, já que o destino de Maelor desempenha um papel importante em eventos importantes que estão por vir.
Maelor, o ausente
Os seguintes trechos do texto de Martin são longos demais para incluir aqui, mas o resumo é:
Mudança 1: Maelor e Jaehera serão enviados para um local seguro por Alicent, que está preocupada com suas vidas se permanecerem e Rhaenyra tomar Red Keep. Ela os envia em direções diferentes e com diferentes guarda-costas. O protetor de Maelor, Ser Rickard Thorne, é assassinado em Bitterbridge. A multidão que o mata, embriagada de sangue, tenta levar Maelor para ganhar a recompensa da rainha, e o menino é despedaçado, de forma horrível.
Mudança 2: isso leva a a rainha Helaena a cometer suicídio por perder mais um filho, o que, por sua vez, leva a um grande levante do povo contra Rhaenyra, que se esconde de volta em Dragonstone e o destino que a aguarda lá. Helaena era muito amada pelo povo comum. “No esboço de Ryan para a temporada 3, Helaena ainda se mata… sem motivo particular”, escreve ele. “Não há novo horror, nenhum evento desencadeador para sobrecarregar a frágil jovem rainha. E a última borboleta segue logo em seguida.”
Mudança 3: durante a rebelião do povo, uma das cenas mais horríveis acontece quando o Pastor — um líder profético da turba — leva seus seguidores para o que agora é referido como ‘O Ataque ao Dragonpit’. É uma cena marcante na história e foi precedida pelo descontentamento entre a população, mas foi a morte de Helaena (causada pela morte horrível de seu filho) a faísca. “Maelor por si só significa pouco”, diz Martin. “Ele é uma criança pequena, não tem uma linha de diálogo, não faz nada de a não ser morrer… Mas onde e quando e como, isso importa. Perder Maelor enfraqueceu o final da sequência Blood and Cheese, mas também nos custou a cena de Bitterbridge com todo seu horror e heroísmo, subestimou a motivação para o suicídio de Helaena, e isso, por sua vez, mandou milhares para as ruas e becos, gritando por justiça para sua rainha ‘assassinada’. Nada disso é essencial, eu suponho… Porém, isso serve a um propósito, tudo ajuda a amarrar as linhas da história, para que uma coisa siga a outra de forma lógica e convincente.”
Pior ainda, Martin faz um aviso bastante sombrio para o que está por vir: “Há borboletas maiores e mais tóxicas a caminho, se HOUSE OF THE DRAGON seguir adiante com algumas das mudanças que estão sendo contempladas para as temporadas 3 e 4.”
Após alguns dias, George R.R. Martin apagou a publicação e não deu nenhuma explicação. Ele pode ter reconsiderado, recebido uma mensagem muito severa dos responsáveis da HBO, ou Ryan Condal o ligou e disse “ok, ok, vamos colocar Maelor de volta!”.
Em outra publicação, a HBO respondeu ao post de Martin com a seguinte declaração: “Há poucos fãs entusiasmados de George R.R. Martin e seu livro Fire & Blood como os que estão na equipe criativa de House of the Dragon, tanto na produção quanto na HBO. Comumente, ao adaptar um livro para a tela, com seu próprio formato e limitações, o showrunner acaba sendo obrigado a tomar decisões difíceis sobre os personagens e as histórias que o público seguirá. Acreditamos que Ryan Condal e sua equipe fizeram um trabalho extraordinário e os milhões de fãs que a série conquistou nas duas primeiras temporadas continuarão a apreciá-la.”
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Erik Kain é contribuidor sênior da Forbes EUA