Resumo:
- Serena Williams é a primeira atleta fazer parte da lista anual da Forbes das Mulheres Self-Made Mais Ricas dos Estados Unidos;
- Fortuna de Serena está estimada em US$ 225 milhões;
- Atleta soma 34 startups em seus investimentos de risco, com perdas de apenas US$ 6 milhões;
- Fundo Serena Ventures foi lançado formalmente em 2018 e está aberto a negócios e novas ideias;
- Linha de roupas da atleta está confirmada para o New York Fashion Week, em setembro.
No calendário de Serena Williams, os sábados são reservados à família. O sábado que passei com ela em Roma (ela esteve em Nova York no início da semana e estaria em Paris na seguinte), especificamente, tem um significado extra. Há exatos quatro anos, na “cidade eterna”, ela conheceu o marido, Alexis Ohanian, cofundador da comunidade online Reddit.
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Os dois celebram com uma caminhada no jardim de um hotel com sua filha de quase dois anos, Olympia, a tiracolo. É mais romântico do que parece: o Rome Cavalieri, com seu jardim de 60 mil metros quadrados, mais se parece um parque privado, cheio de mármore e bronze, leões e unicórnios.
O ambiente é digno de uma figura histórica do esporte norte-americano, que tem 23 títulos do Grand Slam e superou todas as barreiras e estereótipos. E os unicórnios? Entre o Reddit e seu fundo de US$ 500 milhões, o Initialized Capital, Alexis Ohanian faz sua parte. E Serena também tem disputado essa partida – silenciosamente. Ela é agora a primeira atleta mulher a fazer parte da lista anual Mulheres Self-Made Mais Ricas dos Estados Unidos, da Forbes, com uma fortuna estimada em US$ 225 milhões – grande parte vinda do cérebro e da marca de Serena e não de suas jogadas nas quadras. Nos últimos cinco anos, ela tem colocado dinheiro em 34 startups sem grandes alardes. Em abril, Serena anunciou formalmente que a Serena Ventures está aberta para negócios, para financiar e lançar empresas.
Os atletas estão mais ricos do que nunca, graças à explosão das taxas de direitos televisivos para eventos esportivos ao vivo pagas aos jogadores. Os 50 profissionais do esporte mais bem pagos do mundo faturaram US$ 2,6 bilhões no ano passado, contra US$ 1 bilhão há 15 anos. E Serena não é a primeira a colocar em jogo sua renda disponível recém-adquirida no trabalho – somente na NBA, LeBron James, Stephen Curry e Kevin Durant lançaram empresas de mídia, e Durant, Andre Iguodala e Carmelo Anthony se tornaram investidores ativos de capital de risco. Porém, Serena é uma das poucas a investir especificamente em torno de uma única estrela: ela mesma.
“Eu quero fazer parte disso”, diz ela, sentada no hotel. “Quero fazer parte da infra-estrutura. Eu quero ser a marca, em vez de apenas ser o rosto.” Dada sua longa experiência com moda e estilo, isso significa participação de peso em linhas de roupas, joias e produtos de beleza. Sim, ela continuará competindo no tênis – seu resiliente retorno no ano passado após o parto a transformou em um ícone cultural que transcende os esportes. E, com certeza, ela continuará feliz em receber retorno de patrocínios de empresas como Nike e JPMorgan Chase – a receita total de US$ 29 milhões nos últimos 12 meses é a mais alta de sua carreira.
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Mas, como alguém que empurra uma alavanca, Serena aposta que pode diminuir esses números e impulsionar parte do seu patrimônio com seu nome e fama.
A história de como as irmãs Serena e Venus Williams alcançaram o topo do mundo do tênis é uma lenda Hollywoodiana: um pai negro com experiência limitada no esporte ensina suas duas filhas nas ruas de Compton, na Califórnia, a entrarem e dominarem um esporte de brancos. “Você via pessoas diferentes andando na rua com fuzis AK-47s e pensava: ‘Hora de entrar em casa'”, lembra ela. “Quando você ouve tiros, você se abaixa.”
A insistência de seu pai para que as filhas precoces evitassem a escola privada de tênis e o circuito de torneios júnior deixou uma marca na mais jovem, especialmente depois que ela conquistou seu primeiro título do Grand Slam aos 17 anos. “Isso realmente me moldou para o resto da minha carreira, dentro e fora da quadra, no que diz respeito a ter uma chance e como ser diferente e conseguir destaque”, diz Serena sobre sua estratégia. Quando todos correm para a direita, ela vai para a esquerda.
Por isso, na Serena Ventures, ela se concentra em empresas fundadas por minorias. Sim, existe um propósito social nessa decisão. Mas, assim como sua abordagem no esporte, ela também encontra oportunidades evitando o efeito manada. Apenas 2,3% do capital de risco total investido no ano passado nos EUA foi para startups lideradas por mulheres – e, mesmo quando levamos em conta as empresas com fundadores do sexo masculino e feminino, o número atinge apenas 10%. Os dados são piores no que diz respeito a empreendedores negros e hispânicos. Na contramão, cerca de 60% dos investimentos de Serena até agora foram para empresas lideradas por mulheres ou pessoas de diferentes etnias. “O que melhor é do que isso para divulgar a mensagem?”, pergunta.
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A única forma de aumentar a representatividade é estimular essas empresas cedo, algo que Serena fez depois de investir e perder US$ 250 mil em uma startup nos anos anteriores à Serena Ventures. “Aprendi que você não pode gastar demais e também que adoro investir em ideias”, diz. Das 34 iniciativas apoiadas pela Serena Ventures, mais de três quartos estão em estágio inicial.
“É divertido estar lá. Eu não me arrisco totalmente. Não salto nos precipícios”, diz Serena. “Eu sou o tipo de pessoa com mais aversão a riscos, mas percebi que o campo das novas ideias era onde eu queria estar.”
Dado o caráter arriscado das startups nos estágios iniciais, Serena construiu uma equipe de mentores do Vale do Silício, assim como tem Patrick Mouratoglou para guiá-la nas quadra e Jill Smoller, da WME, para gerenciar seus patrocínios – quase um quarto de bilhão – por quase duas décadas. Chris Lyons, da Andreessen Horowitz, é um consultor e amigo pessoal. “Ela é mais apaixonada do que 99% das pessoas neste mercado”, diz ele. “Serena está sempre perguntando o que achamos das empresas.”
Há, ainda, a diretora de operações do Facebook, Sheryl Sandberg, uma amiga de longa data com quem Serena faz parte do conselho da SurveyMonkey. “Eu sempre peço a ela conselhos sobre os mais diversos assuntos”, diz a atleta, que também faz parte do conselho da plataforma de compras sociais Poshmark.
Mas um dos mentores está acima dos demais – aquele com quem ela se casou. “Eu realmente me apoiei em Alexis”, diz ela. Serena nunca tinha ouvido falar do Reddit quando o casal se conheceu, em 2015, e Ohanian sabia pouco sobre o tênis. Mas eles uniram as ambições. “Ela está determinada a ser ótima em tudo que faz”, diz Ohanian, que tem um patrimônio estimado pela Forbes em US$ 70 milhões.
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As metas de sua empresa de capital de risco estão tradicionalmente mais focadas em tecnologia – grandes jogadas incluem a Instacart e a Patreon. Serena aprendeu muito ao observar de perto os negócios do marido. A Initialized e a Serena Ventures têm investido em conjunto em algumas iniciativas, incluindo a Gobble, que faz entregas semanais de kits de jantar, e a Wave, que oferece transferências sem taxas sobre dinheiro enviado por telefone para a África. “Eu gostaria que nos chamassem de uma família de negócios moderna”, diz a atleta.
A taxa de investimentos de Serena aumentou em ritmo acelerado com a integração de um gerente de portfólio. Alison Rapaport, 29 anos, recém-formada na Harvard Business School com MBA e cinco anos de experiência no grupo de administração de ativos do JPMorgan, conectou-se à atleta graças a Andreons Lyons. Serena pediu, durante a entrevista, que a candidata apresentasse três ideias de investimentos, junto com os números e a lógica por trás delas. Alison fez sua lição de casa – tanto no que diz respeito às ideias, quanto em saber mais sobre sua potencial nova chefe, que no início da semana havia postado no Instagram o quanto gostava da Taco Sunday. Ela chegou à casa de Serena, fora de São Francisco, para uma reunião na hora do almoço de um domingo munida com propostas de investimentos e duas sacolas de tacos para viagem, e fez um rápido follow up de e-mails para Ohanian. “Eu sabia que aquela era a nossa menina”, diz a atleta.
Serena Williams desliza em torno do barro vermelho do Tennis Club Parioli em Roma alguns dias antes do Aberto da Itália, treinando sob uma mistura eclética de gêneros musicais cuja única semelhança é que são cantados por mulheres poderosas – de Rihanna a Adele e Pink. Quando a notícia de que a tenista mais famosa do mundo está jogando entre eles se espalha pelo clube, uma multidão se forma – o mais novo entre os presentes grita “Serena!”, enquanto o mais velho tira fotos.
Serena é, de longe, a atleta feminina mais famosa dos EUA – e apenas Tom Brady e Tiger Woods estão um pouco à frente no grupo de esportistas em termos de reconhecimento público. E essa fama não carrega quase nenhuma desvantagem no que diz respeito à marca – seu apelo junto ao público é acima da média em todas as faixas etárias e classes sociais, dos millennials aos mais abastados, diz Henry Schafer, da Q Scores, que avalia a popularidade das personalidades.
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Depois de 20 anos no centro das atenções, Serena sabe como lidar com sua fama. No final da sessão de duas horas, ela gentilmente fez fotos e deu autógrafos. Mas, mais importante: ela descobriu com a Serena Ventures como aproveitar tudo isso.
A última década deu origem às celebridades investidoras, estimuladas pelo sucesso de pessoas como o ator Ashton Kutcher e o músico Nas, ambos com fundos próprios. Os recentes IPOs do Uber e da Lyft atraíram dezenas de músicos e celebridades de Hollywood, como Gwyneth Paltrow, Jay-Z e Olivia Munn, que chegaram cedo e compraram em peso. No geral, Ohanian é cético em relação à tendência. “O conselho que dou aos fundadores é que não recebam dinheiro de celebridades”, diz ele. “A única exceção é quando realmente adicionam valor, porque, na maioria dos casos, elas não estão realmente familiarizadas com este mundo. Então, se você estiver fazendo isso para alimentar o seu ego, saiba que é uma má ideia.”
Serena tenta colocar dinheiro em negócios onde sua fama, marca e plataforma sejam multiplicadas. Como uma das melhores embaixadoras de produtos deste século, isso é algo no qual ela se aperfeiçoou e desempenha de forma que a maioria dos músicos e atores não faz. Ela conta com quase 30 milhões de seguidores nas mídias sociais – suas postagens usando itens da Nike geraram mais de US$ 2 milhões em valor promocional para a marca nos últimos 12 meses, segundo a Hookit, que acompanha a influência das celebridades nas redes. “Serena é uma voz única na sua geração. Ela atinge um público global que vai muito além do tênis”, diz o CEO da Hookit, Scott Tilton.
Essa voz é amplificada exponencialmente quando se lida com marcas em estágio inicial, em vez de uma grife como a Nike. Ela compartilhou uma sequência de dois vídeos no Stories do Instagram de sua equipe comendo refeições do Daily Harvest antes do Met Gala. A atleta também colaborou com a Neighborhood Goods, que faz uma abordagem pop-up de sua linha de roupas para o varejo. “Usar sua plataforma para falar sobre nossa missão foi o maior apoio que tivemos além do capital”, diz Georgina Gooley, cofundadora da Billie, que corta os preços para eliminar o “pink tax”, que faz com que produtos voltados para mulheres custem mais do que versões semelhantes para homens.
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O aplicativo de namoro e networking Bumble incluiu Serena como patrocinada em 2019, incluindo um anúncio no Super Bowl. A dupla também promoveu uma competição entre fundadores, na qual dois dos vencedores – de empresas fundadas por mulheres – receberiam financiamentos da Bumble e de Serena. Três executivos de empresas do portfólio da Serena Ventures – a Daily Harvest, a The Wing, espaço de trabalho voltado para as mulheres, e a Lola, uma marca de absorvente natural – participaram da primeira Cúpula da Bumble Fund em abril. “Ela consegue promover o acesso a um lugar onde as pessoas se conectam umas com as outras”, diz Jordana Kier, fundadora da Lola.
Esse tipo de poder investidor pulverizado se traduz em outro benefício: o fluxo de negócios. Em empreendimentos mais maduros, as empresas tradicionais de capital de risco precisam assumir grandes participações para atingir metas de retorno. Serena, no entanto, está feliz com o caminho. “As companhias sabem que ela é uma investidora estratégica extremamente valiosa”, diz Ohanian. “Acho que é a melhor de todas as oportunidades, e ela pode escolher entre as principais iniciativas de capital de risco em negócios que são interessantes e surgem no seu caminho e, ao mesmo tempo, ainda ter seu próprio fluxo de empreendimentos de pessoas que querem que ela invista.”
Outro benefício do investimento em estágio inicial: mesmo com 34 cheques assinados, ela perdeu apenas cerca de US$ 6 milhões até agora. Como investidora de risco, dado seu patrimônio líquido, as perdas não são grandes. E os retornos até agora parecem promissores. A Serena Ventures afirma que, atualmente, o portfólio está valorizado em mais de US$ 10 milhões e já duplicou o investimento inicial. Quase metade das empresas já fez rodadas de investimentos de risco desde que a atleta injetou capital – e a Serena Ventures parece pronta para fazer sua primeira saída depois que a Unilever anunciou planos de comprar a produtora de suplementos Olly Nutrition em abril. Cinco de seus investimentos estão, pelo menos, cinco vezes maiores. Os melhores desempenhos são da Billie, da Daily Harvest, da MasterClass e da Wing.
Mas Serena Williams não seria uma das grandes concorrentes de todos os tempos sem a necessidade de investir mais em si mesma. Embora ela seja conhecida como um ícone da moda, a atleta só ganhou dinheiro por meio de outras plataformas, seja por patrocínios ou parcerias. Agora, isso está mudando. Smoller, seu agente de longa data, lembra de uma recente reunião na Nike. “Eu estava conversando e Serena me interrompeu e começou a fazer todas essas perguntas sobre seus canais de distribuição, KPIs e estratégias de crescimento”, diz ele. “Eu olhei em volta e vi a cara dos demais… Ela está em um nível em que quer entender o processo e os métodos, o que muita gente não espera.” Em maio do ano passado, a Serena Ventures lançou uma linha de roupas de venda direta com financiamento próprio, a S Serena. Ela estava esperando que alguém financiasse a empresa para que ela pudesse desenhar as roupas. “Eu estava pensando sobre isso da maneira errada. Eu precisava investir em mim mesma.”
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A linha inclui vestidos, jaquetas, tops e muito mais. A maioria das peças custa na faixa de US$ 200. Ela está animada com a presença da marca no New York Fashion Week, em setembro. A coleção ganhou um impulso em outubro, quando Meghan Markle, amiga de Serena, foi flagrada usando o blazer Boss, que rapidamente se esgotou no site. A atleta retribuiu o favor ao organizar o chá de bebê da duquesa de Sussex em fevereiro. Serena planeja lançar uma linha de joias da marca ainda este ano e uma de produtos de beleza em 2020.
Com todos esses negócios, Serena diz que continuará abreviando sua programação nas quadras – a prioridade será dos eventos do Grand Slam que sustentam sua marca. Com idade elevada para o mundo do tênis, aos 37 ela ainda acha que tem dois ou talvez três anos de competição pela frente. “Eu não tenho pressa para deixar o esporte”, diz ela. Já na Serena Ventures, ela estabeleceu as bases para continuar jogando por toda sua vida. “Eu quero criar uma marca que tenha longevidade, mais ou menos como minha carreira”, diz ela. “Não é chique, não pertence a este lugar, não está fora, não é moda. É básico, como o meu jeito de jogar tênis.”
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