Com o dólar caro, vale a pena obter financiamento no exterior?

E comprar imóveis nos EUA, por exemplo, ainda é viável? Especialistas comentam

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Nesta sexta-feira (22), o dolar fechou em R$ 3,06. Embora já tenha atingido valores maiores neste ano, ainda é um número alto. FORBES Brasil perguntou a dois especialistas: neste cenário, vale a pena  obter financiamento no exterior? E comprar imóveis nos EUA, por exemplo, ainda é viável?

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Para debater o assunto, foram convidados William Eid Jr., professor e coordenador do Centro de Estudos em Finanças da FGV/EAESP, e Adalberto Schiehll, consultor em negócios internacionais e sócio de empresas de incorporação imobiliária.

Veja a seguir:

  • William Eid Jr.

    “Vamos começar pelos financiamentos. O risco de valorização do dólar no Brasil sempre foi uma constante. Esse não é um problema apenas atual — sempre existiu. E as empresas mantiveram seus financiamentos no exterior. E vão continuar com esse procedimento. Em particular, porque muitas delas geram receitas no exterior, então têm um hedge (proteção) natural contra oscilações no câmbio. E, por outro lado, as taxas de financiamento são muito tentadoras lá fora, girando em torno de 1 ou 2% ao ano, apenas. Porém, para empresas que não têm receitas em dólar a situação pode ser mais complexa, até pela grande incerteza que ronda o comportamento da moeda americana. Aí, ou elas se retraem e buscam financiamento no Brasil ou procuram alguma forma de hedge, que em geral para prazos mais longos será caro.
    Já no caso de famílias que buscam imóveis em outros países a situação é diferente. Em geral essas pessoas não estão atrás de rentabilidade nesses investimentos, mas sim de segurança para os membros daquele grupo familiar. Segurança física mesmo, dado o elevado grau de violência presente na sociedade brasileira. Então, não é o câmbio que é determinante nesses investimentos, mas sim essa busca por segurança. E infelizmente as perspectivas para problemas como a violência urbana no Brasil são muito ruins. A recessão que se avizinha só vai piorar tal situação, levando mais e mais famílias a buscarem refúgio no exterior.
    Agora, se o objetivo em um caso assim for de fato rentabilidade no investimento, então a questão é outra. É preciso, em primeiro lugar, analisar se o consumo do investidor se dá somente no Brasil ou também fora do país. Se ele consome no exterior, não precisa fazer a conversão dos valores investidos para reais, o que elimina parte do problema. Mas se seu consumo ocorre integralmente no Brasil, ele deve fazer a conversão. E aí a volatilidade do investimento será bastante elevada. É só observarmos o comportamento do câmbio nos últimos meses. No quesito rentabilidade, não podemos esperar valores muito elevados, até porque os preços nos EUA parecem já ter se recuperado. Então, adquirir imóveis no exterior não é um investimento adequado para brasileiros. Há opções melhores, como títulos financeiros de grandes bancos brasileiros que pagam em torno de 5% ao ano em dólares. E que são líquidos.”

  • Adalberto Schiehll

    “Este não é o momento de gastar reais para adquirir bens ou produtos em dólares. Provavelmente existirão poucas oportunidades internacionais na atual situação cambial, pois estamos hoje no lado contrário do pêndulo, apesar da previsão de alguns especialistas de que tal ‘pêndulo’ deverá elevar-se ainda até perto de R$ 4,00, para só então se estabilizar em torno de R$ 3,25.
    Comparando a situação cambial com o mercado de capitais, sabemos que a regra de ouro em se tratando de ações é comprar na baixa e vender na alta — mas se todos obedecessem essa regra à risca, não existiriam negócios na Bolsa. Segundo a regra, este momento não é adequado para adquirir ou importar bens do exterior; porém, sempre haverá pessoas e empresas com urgências e acima das conveniências ou dos momentos do mercado. Isso ocorre mais com as pessoas físicas do que com as pessoas jurídicas, pois as primeiras agem por impulso
    e com motivações que muitas vezes não são só monetárias.
    Sobre contratar financiamentos baseados em dólar, acho que quem faz operações assim sempre pondera as oscilações cíclicas e os riscos cambiais, inclusive via contratos de hedge e outras proteções.
    Portanto, para tais operações a atual situação cambial do real não deve ter grande influência. Se tiver, será mais algo emocional, o que não é aconselhável para profissionais dessa área. E caso estejamos realmente no pico de alta do ciclo de cotação do dólar, estaremos matematicamente em uma situação ideal para contratação de financiamento nessa moeda, dado que quando da quitação das parcelas, nos meses e anos seguintes, a cotação em princípio estará necessariamente mais favorável.
    Avalio que neste momento as compras e financiamentos de curto prazo no exterior não devem ser realizadas, ou ao menos precisam ser muito bem analisadas. As operações de longo prazo não sofrerão maiores consequências, ajustando-se à nova realidade de forma relativamente serena. O setor empresarial está acostumado com esse tipo de ciclos, dos quais pode até mesmo obter vantagens. Já as pessoas físicas pensam e agem de forma mais impulsiva.”

William Eid Jr.

“Vamos começar pelos financiamentos. O risco de valorização do dólar no Brasil sempre foi uma constante. Esse não é um problema apenas atual — sempre existiu. E as empresas mantiveram seus financiamentos no exterior. E vão continuar com esse procedimento. Em particular, porque muitas delas geram receitas no exterior, então têm um hedge (proteção) natural contra oscilações no câmbio. E, por outro lado, as taxas de financiamento são muito tentadoras lá fora, girando em torno de 1 ou 2% ao ano, apenas. Porém, para empresas que não têm receitas em dólar a situação pode ser mais complexa, até pela grande incerteza que ronda o comportamento da moeda americana. Aí, ou elas se retraem e buscam financiamento no Brasil ou procuram alguma forma de hedge, que em geral para prazos mais longos será caro.
Já no caso de famílias que buscam imóveis em outros países a situação é diferente. Em geral essas pessoas não estão atrás de rentabilidade nesses investimentos, mas sim de segurança para os membros daquele grupo familiar. Segurança física mesmo, dado o elevado grau de violência presente na sociedade brasileira. Então, não é o câmbio que é determinante nesses investimentos, mas sim essa busca por segurança. E infelizmente as perspectivas para problemas como a violência urbana no Brasil são muito ruins. A recessão que se avizinha só vai piorar tal situação, levando mais e mais famílias a buscarem refúgio no exterior.
Agora, se o objetivo em um caso assim for de fato rentabilidade no investimento, então a questão é outra. É preciso, em primeiro lugar, analisar se o consumo do investidor se dá somente no Brasil ou também fora do país. Se ele consome no exterior, não precisa fazer a conversão dos valores investidos para reais, o que elimina parte do problema. Mas se seu consumo ocorre integralmente no Brasil, ele deve fazer a conversão. E aí a volatilidade do investimento será bastante elevada. É só observarmos o comportamento do câmbio nos últimos meses. No quesito rentabilidade, não podemos esperar valores muito elevados, até porque os preços nos EUA parecem já ter se recuperado. Então, adquirir imóveis no exterior não é um investimento adequado para brasileiros. Há opções melhores, como títulos financeiros de grandes bancos brasileiros que pagam em torno de 5% ao ano em dólares. E que são líquidos.”

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