Aos 17 anos, Millena Xavier já recebeu prêmios nacionais e internacionais, foi convidada a participar de cursos de universidades conceituadas, como a de Toronto e Stanford, e de um comitê internacional de olimpíadas estudantis. Em março, vai palestrar para todos os funcionários da B3, e no mês seguinte voa para Nova York para participar do Prêmio Jovens Visionários, da Prudential, que também concedeu R$ 30 mil para investir em sua Ong.
Millena é cofundadora da Prep Olimpíadas, que fomenta a participação de jovens em olimpíadas científicas, e faz parte da lista Forbes Under 30 2023. Sua organização já palestrou em mais de 200 escolas e tem um braço de inteligência artificial, o Prep AI, que ensina história e matemática e responde a dúvidas dos estudantes sobre as olimpíadas. “No ChatGPT eles não encontram essas informações, porque são assuntos muito específicos”, diz a cientista, que também não encontrou apoio da escola quando começou a se interessar pelas olimpíadas.
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“Eu podia ter parado por aí”, diz ela que, em vez disso, resolveu mudar de escola e de cidade. Natural de Juiz de Fora (MG), aos 15 anos passou a morar sozinha em Viçosa, a pouco mais de 150 km da casa de sua família, para estudar em um colégio federal que a apoia em atividades extracurriculares.
Em dois anos, Millena participou de 70 olimpíadas. “Em alguns finais de semana, eu fazia umas três”, lembra ela, que foi premiada 38 vezes. Coleciona dois ouros pelas olimpíadas brasileiras de tecnologia, dois na de ciências, um na de inteligência artificial e outro na de informática. No ano passado, a Prep Olimpíadas organizou a OBAFRO, primeira olimpíada brasileira de afrodiversidade, com questões de história, sociologia e literatura negras. Foram 46 escolas parceiras e 20 mil inscritos.
Millena é também a única brasileira no comitê do IRO (International Research Olympiad), ao lado de professores seniores das melhores universidades do mundo. “Os reconhecimentos externos ajudam”, diz, em relação à insegurança de ocupar espaços que podem ser intimidadores para uma jovem mulher. “Mesmo com projetos de inclusão, as salas de estudantes de engenharia ainda são majoritariamente masculinas.”
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Desenvolveu um software para diagnosticar autismo
Presidente da Prep Olimpíadas, que já teve 300 voluntários em 3 anos, Millena lidera as equipes enquanto toca outros projetos de pesquisa e estuda para passar na faculdade. Ela quer fazer engenharia biomédica em Stanford, nos EUA. “Mas pretendo voltar para o Brasil para tocar meus negócios aqui.”
A participação em olimpíadas de ciências e sua Ong voltada para o tema podem chamar a atenção dos recrutadores – foi com isso em mente que ela decidiu entrar nesse mundo aos 14 anos.
No seu currículo também tem pesquisas sobre autismo e um software desenvolvido por ela que usa inteligência artificial para diagnosticar pessoas do espectro autista. “Tenho primos que têm autismo e um colega de sala que descobriu com 18 anos, o que me fez pensar que o diagnóstico não é acessível.”
Ela recebeu uma bolsa integral para pesquisar sobre o assunto pela BRASA, a associação de estudantes brasileiros no exterior. E foi convidada a levar seu projeto para a ICYS (Conferência Internacional de Jovens Cientistas), que acontece este ano na Turquia. “As oportunidades estão aí, mas ainda não temos apoio para representar o Brasil.”
Para vislumbrar um caminho na ciência, Millena se inspirou na trajetória de Tabata Amaral, que antes de entrar para a política também foi campeã em olimpíadas científicas e estudou em Harvard. E na de Jaqueline Góes, biomédica conhecida por ter sequenciado o genoma do vírus da Covid-19 em tempo recorde. “Estão surgindo cada vez mais cientistas mulheres para trazer inovação em todas as áreas. E precisamos nos apoiar para chegar aonde queremos.”