Nesta quarta-feira (11) encerra-se a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de 2024. Também é o último encontro sob a presidência de Roberto Campos Neto. Na primeira reunião de 2025, agendada para os dias 28 e 29 de janeiro, o Banco Central (BC) estará sob o comando de Gabriel Galípolo. Para além dessas mudanças, a reunião que se iniciou na terça-feira (10) trará outra alteração: uma aceleração do processo de aperto monetário, provocada pela deterioração recente das expectativas.
Atualmente em 11,25% ao ano, a taxa de juros referencial Selic vai subir de novo. Na reunião anterior, em setembro, a elevação foi de 0,50 ponto percentual. Agora, a alta pode ser de 0,75 ou 1,0 ponto percentual.
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A segunda alternativa é considerada mais provável pelo mercado. Na manhã da quarta-feira, as opções de Copom negociadas na B3 indicavam 63,5% de probabilidade de alta de 1,0 ponto percentual e 27% de probabilidade de alta de 0,75 ponto percentual. Um aumento de 0,50 ponto, semelhante ao da reunião de setembro, era considerado improvável, com apenas 4% de probabilidade.
Se essas probabilidades se confirmarem, a Selic encerrará 2024 a 12,25% ao ano. A título de curiosidade: na primeira edição do Relatório Focus deste ano, a Selic projetada para dezembro era de apenas 9,0%.
Piora das expectativas
Por que as projeções mudaram tanto? Em resumo, por uma deterioração abrupta das expectativas registrada no fim do terceiro trimestre deste ano. Segundo Mário Mesquita, ex-diretor de Política Monetária do Banco Central e economista-chefe do Itaú Unibanco, “ao longo dos últimos meses, testemunhamos um crescente de incerteza e aversão a risco”.
Mesquita afirmou em relatório enviado a clientes que essa incerteza foi “bastante impulsionada pelo anúncio de um ajuste fiscal que, em um primeiro momento, frustrou os analistas independentes”. Os analistas do Itaú Unibanco esperam uma alta de 1,00 ponto percentual na Selic e avaliam que o Copom deva indicar que haverá mais uma alta de 1,00 ponto percentual na reunião de janeiro, elevando a Selic para 13,25% ao ano.
Alta do dólar
Há outras justificativas para a expectativa de juros mais altos além da frustração com o ajuste fiscal. O cenário externo está mais adverso devido à perspectiva de que os juros nos Estados Unidos se estabilizem ao redor de 4% ao ano. Isso torna os investimentos em dólares mais atraentes, o que drena recursos para o mercado americano e mantém o câmbio apreciado em relação ao real.
“O câmbio foi a variável que mais sentiu o descrédito da política fiscal do atual governo”, segundo os economistas do banco de investimentos Asa. O banco passou a projetar uma taxa de câmbio de R$ 6,00 no fim de 2024, indicando uma desvalorização de 20% no ano e de 8% nos últimos 3 meses. Para 2025, o câmbio projetado deve chegar a R$ 6,15.
Para os economistas do Asa, a alta do dólar deve afetar a inflação doméstica. O repasse da desvalorização do real deve se concentrar no começo de 2025 e afetando principalmente alimentos e produtos industrializados. O banco espera um IPCA de 4,8% em 2024 e de 5,2% em 2025, ambos acima do teto da meta de inflação.
Pleno emprego
Além disso, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro segue crescendo acima do esperado em um cenário de pouco desemprego. O índice mais recente mostra uma taxa de desocupação de 6,2%, historicamente baixa para os padrões brasileiros. “O superaquecimento nos mercados de trabalho e de bens e serviços sustentam nossa expectativa de alta de 1,00 ponto percentual na Selic”, segundo relatório do Deutsche Bank assinado por Drausio Giacomelli e J.P. Schuchter.
O relatório do Deutsche vai além. Os analistas afirmaram esperar mais uma alta de 1,00 ponto percentual na reunião de janeiro. “E se o câmbio permanecer depreciado e as expectativas de inflação subirem, o Banco Central deverá manter esse ritmo de altas de 1,00 ponto percentual (apesar de o mais provável ser uma desaceleração)”, escreveram eles. Ou seja, o Deutsche não descarta uma taxa terminal (a do fim do ciclo de alta) de mais de 13,25%.
Essa projeção é compartilhada pelos analistas do Itaú Unibanco. “Com esse contexto, acreditamos que a taxa terminal deve ser maior que nossa atual projeção de 13,50% a.a.”, escreveu Mário Mesquita no relatório enviado aos clientes.
Otimismo do Citi
Nem todos os analistas estão tão pessimistas, entretanto. O Citi é um pouco mais otimista. Para o banco, a Selic deve chegar a 13,25% em março de 2025 e permanecer neste patamar ao longo de todo o próximo ano. Os analistas esperam uma elevação de 0,75 p.p nesta quarta-feira. Uma alta de 0,50 ponto percentual é considerada improvável por eles devido à deterioração das expectativas. No entanto, um aumento de 1,00 ponto percentual também é visto com ressalvas, devido à necessidade de o BC ser parcimonioso no choque de juros.
Em um momento em que alguns participantes do mercado discutem a eficácia da política monetária para conter a deterioração das expectativas, o Citi não trabalha com um cenário de dominância fiscal. O próprio Focus segue mostrando juros mais elevados, mas com a contrapartida de uma inflação mais controlada, avaliam eles.
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