Ela é a primeira brasileira escolhida para a edição de estreia do Fred Trajano Postdoctoral Fellows Fund, programa de bolsa de estudos de pós-doutorado no MIT (Massachusetts Institute of Technology), organizado pelo hospital Albert Einstein em parceria com o CEO do Magazine Luiza, que dá nome ao programa. A cientista da computação Chrystinne Fernandes desenvolve pesquisas na área da saúde por meio da análise de dados e aplicações IoT (internet das coisas), que conecta objetos comuns à internet.
Seu trabalho aparece em primeiro lugar na lista de profissões em alta demanda para os próximos anos, segundo o relatório Future of Jobs, do Fórum Econômico Mundial. “É uma área maravilhosa, com muito potencial de carreira. Se com a minha trajetória eu conseguir inspirar uma mulher a entrar na área, vou ficar muito feliz”, diz a pesquisadora.
Poucas colegas em TI
Quando se formou na UFPB, Chrystinne tinha apenas 5 colegas mulheres entre os 30 alunos de sala. Nesse período, teve uma ou duas professoras mulheres. “Sempre me dei bem com isso, mas claro que faz falta.”
As mulheres compõem 20% da força de trabalho em tecnologia, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O setor era – e continua sendo – um território masculino, mas, aos poucos, os números começam a refletir alguma mudança.
Um levantamento da Catho mostra que entre janeiro e fevereiro deste ano a presença das mulheres chegava a 23,6% dos postos do setor. Entre os três finalistas do programa que chegaram à etapa de entrevista com Frederico Trajano, havia duas mulheres. “Como a gente não tem tantas referências, foi muito especial”, diz Chrystinne. “A proposta do programa tem sinergia com um princípio que sempre norteou minha vida profissional e pessoal, o de levar ao acesso de muitos o que é privilégio de poucos”, afirma o empresário.
A pesquisadora vai aprimorar os conhecimentos em análise de dados ao estudar no Laboratório de Fisiologia Computacional do MIT, líder mundial no campo da construção e curadoria de conjuntos de dados clínicos, com especialistas do mundo todo.
Serão dois anos nos Estados Unidos, com reuniões quinzenais com pesquisadores do Einstein para trocar conhecimentos sobre tecnologia e saúde. “Eu vou tentar ao máximo extrair o conhecimento de lá e trazer para o Brasil, a minha ideia é agregar valor para a pesquisa brasileira.”
O currículo e a experiência internacional pesaram para a aprovação, segundo ela. Mas o fato de ter sido orientada pelo professor e diretor do laboratório de engenharia de software da PUC-Rio, Carlos Lucena, também contou. Pioneiro na área da computação no Brasil, foi uma das primeiras pessoas a usar um computador no país.
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Mulheres na tecnologia
O dia em que recebeu a notícia foi, segundo Chrystinne, o melhor de sua vida. De Patos, interior da Paraíba, ela foi criada com os três irmãos somente pela mãe, depois de seu pai ter sido assassinado quando ela tinha seis meses de idade. Sempre foi uma aluna dedicada e apaixonada por exatas, daí a escolha pela ciência da computação. Ela não tinha nenhuma referência na área, mas sua mãe foi uma grande inspiração da mulher forte que ela sonhava ser.
A pesquisadora incentiva meninas e mulheres a seguir carreira na tecnologia, setor que vem se expandindo e demandando profissionais, e aconselha: “Não podemos levar a sério os preconceitos e o que as pessoas falam, temos que nos colocar.”
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