Evy Poumpouras é uma liderança que você com certeza quer ao seu lado. Confira o currículo dela: policial da Polícia de Nova York, agente especial do Serviço Secreto dos EUA e segurança de cinco ex-presidentes norte-americanos, investigadora e interrogadora criminal, jornalista, estrela do reality show Spy Games e autora do livro Becoming Bulletproof, (Se tornando à Prova de Balas, em tradução livre). Essa obra é uma valiosa leitura para quem quer aprender sobre negociação, entrevista e habilidades de liderança de uma mulher que teve sucesso em uma das melhores organizações de segurança do mundo.
Evt é calorosa e tem os pés no chão – você nunca imaginaria que essa mulher consegue derrubar homens armados. Nessa entrevista, ela revela algumas técnicas que você pode aplicar na sua própria carreira.
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Forbes: Como você começou sua carreira em segurança?
Evy Poumpouras: Comecei minha carreira na segurança pública quando entrei na polícia de Nova York como uma recruta. Foi uma das melhores decisões da minha vida, porque me colocou em um caminho que eu nunca havia tido a intenção de seguir. Isso me levou ao Serviço Secreto dos EUA, no qual eu fui agente secreta com três principais missões. A primeira foi proteção: comecei na presidência de Clinton, seguida pelas gestões de George W. Bush e Barack Obama. Também protegi os ex-presidentes George H. W. Bush e Gerald Ford, além de primeiras-damas e famílias desses políticos.
Depois, trabalhei em investigações criminais que envolviam desde fraudes e dinheiro falsificado a golpes online e casos de pedofilia. Por fim, minha terceira missão foi conduzir interrogações como uma analista de polígrafo. Ou seja, eu era um detector de mentiras humano chamado para tirar informações dos suspeitos mais difíceis e relutantes.
Enquanto trabalhava na Casa Branca, sempre estive ao redor dos correspondentes da imprensa, o que me deixou curiosa a tentar uma nova profissão. Então, após quase 13 anos, fui por um caminho completamente diferente: jornalismo e televisão. Comecei cobrindo notícias sobre segurança nacional e aplicação da lei para grandes veículos, nas emissoras NBC e HLN. Depois, participei dos reality shows “The Hunted” e “Spy Games”. Também, fiz um mestrado na Faculdade de Jornalismo da Universidade de Columbia. Com isso, comecei a dar palestras em grandes empresas sobre comunicação e estratégias de negociação com base nos meus anos como interrogadora e negociadora.
F: Você já foi próxima de presidentes dos EUA e contou que, na sua experiência, os líderes de mais sucesso têm duas características: receptividade e competência… O que aprendeu sobre liderança?
EP: As pessoas geralmente pensam que para ter sucesso você precisa ser fria e distante. Você ouve que é melhor ser temida do que amada. Olha, ser temida não funciona. Embora você consiga fazer as pessoas te ouvirem no momento, a longo prazo elas não irão mais gostar de você. Na verdade, elas irão torcer para você falhar. A ciência comprova isso. As autoras Susan Fiske e Chris Malone descobriram que as lideranças com maior sucesso têm duas características: receptividade e competência.
O que aprendi quando comecei a conduzir entrevistas como uma analista do polígrafo é que é relevante como os outros te notam. Primeiro, você precisa ser competente no que faz. Isso significa ser a autoridade e, assim, saber das suas coisas. Depois, ser pontual: fazer o que você diz que irá fazer. O outro elemento é receptividade. A receptividade não quer dizer ser excessivamente legal ou educada – o que pode te deixar para trás –, mas sim, ser aberta, acessível e respeitosa.
Expressar receptividade e competência me ajudou a ter sucesso na sala de entrevistas e conseguir informações que outros não conseguiram. Se você trabalhar nessas características, você terá sucesso em todas as facetas da sua vida, especialmente nos negócios, porque você será vista como uma liderança.
F: Você transformou o fato de ser mulher em uma vantagem em um ramo dominado por homens. Como fez isso?
EP: A narrativa mais comum é que ser uma mulher te coloca em desvantagem, mas eu nunca me vi assim. Não foquei se havia ou em quem tinha problemas com o fato de eu ser uma mulher – essa não era minha preocupação e, muito menos, meu problema. Tinha uma missão a cumprir e vidas para proteger, então não podia ser distraída por essas questões. Foquei no meu trabalho e em ser boa no que faço.
É por isso que eu acho que tive sucesso. Nunca olhei o ambiente e pensei para mim mesma: “Ah não, sou a única mulher aqui. Coitada de mim”. É tudo sobre mindset: eu via uma oportunidade em todo lugar que ia. Eu conseguia trabalhar disfarçada facilmente, por exemplo, porque ninguém achava que eu era uma agente secreta – o que não acontecia com muitos dos meus colegas. Ser mulher me trouxe vantagens que outros não tiveram, e eu aproveitei delas.
F: Seu livro “Becoming Bulletproof” traz dicas práticas sobre liderança. Conte-nos algo que você aprendeu interrogando pessoas.
EP: Uma das coisas que me fez ter sucesso como uma interrogadora e negociadora foi minha habilidade de me adaptar à pessoa que estava na minha frente. Eu não era rígida, mas sim, deixava a conversa ir para onde era necessário. Essa é uma das maiores dificuldades para as pessoas: elas começam uma conversa com uma proposta do que falar e trabalham duro para controlar a direção do papo. Elas acreditam que, se falarem mais, elas terão o controle – e isso não é verdade. A pessoa que fala menos tem o maior poder, porque elas aprendem mais sobre seu oponente e a outra pessoa sabe nada sobre ela. Dica básica: deixe espaço para que as pessoas revelem coisas sobre elas mesmas.
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Também, eu deixo as pessoas falarem primeiro para deixá-las liberar o que elas têm necessidade. Algumas vezes isso leva 5 minutos e, outras vezes, 2o. Eu não as interrompo, termino suas frases ou as corrijo. Só depois de elas finalizarem é quando eu entro na conversa. Isso faz a pessoa se sentir ouvida e, assim, elas conseguem verdadeiramente te escutar, especialmente quando estão emotivas. Caso contrário, os dois lados acabam em uma competição, o que gera conflito e dificulta o processo de negociação.
F: Você já esteve em várias situações estressantes, verdadeiros casos de vida ou morte, ao longo de sua carreira. O que você fez – e o que nós podemos fazer – para dominar o medo?
EP: Você nunca consegue dominar o medo. Nunca. Você sempre sentirá o medo, até porque ele tem um propósito. Ele te deixa segura, em alerta, te ajuda a vigiar seus arredores e te conta quem deve ser evitado. É por causa dele que você olha para os dois lados antes de atravessar a rua e tranca suas portas durante a noite. O medo deve estar na sua vida, uma vez que ele é benéfico para você. Ter medo crônico – sempre ter medo de tudo e deixar o medo te guiar e tomar decisões no seu lugar –, por outro lado, é algo diferente.
O medo pode te ajudar a avaliar os pontos positivos e negativos ou os riscos e as conquistas de uma situação, mas ele não pode ser o fator decisivo na sua decisão. Quanto seu medo se torna pura emoção e qualquer lógica sai pela janela, é aí que começa o problema. A ansiedade toma conta da sua mente e o pânico te domina. Isso te faz perder a confiança em si mesma, o que é perigoso.
Se você quer lidar com o medo, você precisa se render às suas vulnerabilidades e ao fato de que você não consegue controlar tudo. Todos os dias nos quais trabalhei como uma agente especial eu entendia que, independente de quanto treinamento, preparação ou poder de luta eu tivesse, aquele poderia ser o último dia da minha vida. Eu não era resistente ou tinha medo disso – me rendi e aceitei esse fato. Com isso, algo muito bonito aconteceu. Eu viva minha vida ao máximo uma vez que, se meu fim chegasse, eu ficaria bem com isso.
Amo essa fórmula simples do que envolve ser um bom líder – receptividade e competência – que Evy explica nessa nossa conversa. Isso me levou a refletir sobre os melhores líderes que já conheci e é verdade. Todos são capazes e empáticos, o que gera confiança e inspira suas equipes a voar longe. Essas características deveriam ser requisitos para todas as vagas em posições de liderança – vamos começar a praticar isso e ver no que dá.