Chelsea Odufu tem um trabalho com o qual a maioria das pessoas sonha: ela é a chefe nômade digital da Fiverr e vem explorando a Ásia como parte de sua função. O melhor disso: ela conquistou este trabalho.
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É uma grande tendência atual: as empresas geram uma enorme repercussão – e rápida publicidade – ao procurar um candidato viajante para uma posição de destaque. Marcas que vão do “The New York Times” até o destino turístico mexicano de Cancún têm sido palco dessas disputas.
No início deste ano, a Fiverr, uma plataforma online de serviços freelance, fechou uma parceria com a Remote Year, que executa programas de viagens no exterior, para procurar um chefe nômade digital. A iniciativa criou publicidade – e não foi apenas um golpe de marketing. O objetivo da função é reunir informações, insights e conteúdo sobre o que for necessário para construir um pequeno negócio e ser um empreendedor em lugares fora dos Estados Unidos.
Chelsea, uma cineasta de 24 anos que vivia no Senegal na época, venceu dezenas de milhares de outros candidatos. Conversamos com ela, entre uma viagem e outra, para descobrir como é conquistar o emprego dos sonhos, o que ela aprendeu ao conhecer empreendedores em diferentes países e quais são os balanços que as pessoas precisam fazer para trabalhar de maneira remota.
Laura Begley Bloom: Me fale sobre você.
Chelsea Odufu: Eu tenho 24 anos e sou uma cineasta narrativa, criadora de conteúdo de marca e nômade digital, cuja missão é usar filme e vídeo como ferramenta para regenerar imagens fortalecedoras de pessoas sub-representadas na tela. Nascida e criada em Newark, Nova Jersey, como primeira geração nigeriana, guianesa e norte-americana, minha voz como artista é altamente influenciada por minhas raízes culturais e identidade.
LBB: Qual foi a sua trajetória de carreira?
CO: Eu comecei a fazer cinema aos 14 anos, já que sabia desde criança que, um dia, queria me tornar CEO da minha própria produtora de filmes. Comecei então a participar de prestigiados programas de cinema na Parsons School of Design e na New York University (NYU). Isso levou, mais tarde, ao meu ingresso na Tisch School of the Arts da NYU, como aluna da Martin Luther King Scholar, onde me formei em cinema e televisão.
Na NYU eu trabalhei muito duro – às vezes, em dois estágios por semestre ao mesmo tempo em que frequentava aulas em período integral. Como estagiária, trabalhei em empresas como MTV, Nickelodeon, Universal Music Group, “The Source Magazine” e outras. Lá, produzi e dirigi conteúdo para artistas como Chance the Rapper, Meek Mill e Big Sean, além de criar conteúdo para músicos e marcas emergentes para gerar renda.
Depois de me formar na New York Tisch School of the Arts, criei, junto com meu irmão, um filme chamado “Ori Inu: In Search of Self”, que ganhou vários festivais de cinema e foi exibido em países como Alemanha, Finlândia, Suécia e França, entre outros. Ele também ganhou muita atenção da imprensa e foi extensivamente apresentado em plataformas como “The Huffington Post” e “NBC”. Isso resultou na realização de sessões, workshops e palestras em universidades como Harvard, Yale, Dartmouth e Columbia, além de exibições em organizações como o British Film Institute, o principal de filmes da Inglaterra.
Ao mesmo tempo, assim que saí da faculdade fui contratada para trabalhar para o cineasta vencedor do Oscar Spike Lee, em vários de seus projetos, incluindo “Chi-Raq” e sua mais recente série da Netflix, “She’s Gotta Have It”. Desde então, tenho sido capaz de criar conteúdo de marca para empresas como a Cadillac e, mais recentemente, tenho viajado pelo mundo para criar conteúdo para a Fiverr como seu principal nômade digital.
Meu objetivo final é fazer filmes narrativos e conteúdo de marca épico que me permitam viajar e permanecer fiel à minha voz.
LBB:O que a inspirou a se candidatar ao papel de chefe nômade digital?
CO: Na época em que me candidatei, eu morava no Senegal há vários meses e lecionava cinema para crianças senegalesas. Eu estava em um ponto da minha carreira cinematográfica no qual senti necessidade de mergulhar em diferentes culturas, de modo a evitar ter a mesma voz e influências que os meus outros colegas. Eu também senti que era importante me aprofundar em diferentes culturas, de modo a validar minha voz e autenticidade.
Inspirada por millennials e empreendedores em redes sociais que estavam vivendo sua melhor vida enquanto trabalhavam e viajavam, eu me sentia ansiosa para fazer das viagens uma parte do meu estilo de vida e do meu trabalho. Foi pura coincidência que, nessa época, deparei-me com o vídeo sobre nômade digital da Fiverr no Linkedin. Enquanto assistia ao vídeo, balancei a cabeça para todas as perguntas que o vídeo apresentava, como se estivesse falando diretamente comigo. Esta empresa, como marca, representa muitas das coisas que eu defendo como artista: diversidade, empreendedorismo, trabalho duro e uma atitude de resolver as coisas. Então eu soube que me encaixaria bem. Imediatamente me inscrevi e fiquei acordada a noite toda, criando um vídeo de apresentação que tivesse impacto.
LBB: Por que você acha que foi selecionada?
CO: A Fiverr estava procurando alguém que pudesse não apenas criar e editar conteúdo, mas que também fosse apaixonado por viagens, por conhecer novas pessoas e aprender sobre novas culturas. Antes disso, eu já havia visitado mais de 20 países e essas experiências me deixaram à vontade em todos os tipos de novas situações, além de fazerem com que eu conhecesse pessoas de diferentes nacionalidades. No fundo, eu sou uma pessoa voltada para outras pessoas, então construir e fomentar relacionamentos é algo que eu amo. E como mencionei acima, a Fiverr é uma empresa que tem tudo a ver com fazer, com pessoas que são ativas, que trabalham duro, assumem riscos e pensam fora da caixa. Como pessoa, eu represento todas essas características, e meu trabalho e experiência mostram isso.
LBB: Me fale sobre a sua função.
CO: Como nômade digital da Fiverr viajei para o Vietnã, Tailândia, Japão e, agora, estou na Malásia entrevistando empresários, freelancers e proprietários de pequenas empresas que vivem nesses países. Ao mesmo tempo em que ajudo a empresa a entender melhor o que o empreendedorismo significa em diferentes partes do mundo, capturo minhas conversas com as pessoas, imagens e vídeos para criar conteúdo visualmente impressionante para suas diversas plataformas. Também passo algum tempo em frente à câmera, falando sobre os lugares que visitei e compartilhando informações úteis que empreendedores, freelancers e proprietários de pequenas empresas em todo o mundo considerem valiosas.
LBB: Como é viajar com a Remote Year?
CO: Transformador e excitante. É um grupo de 35 empresários ou trabalhadores remotos de todas as partes do mundo: Brasil, Itália, Canadá, Alemanha e EUA, para citar apenas alguns. A Remote Year oferece belas acomodações em cada cidade, bem como um espaço de trabalho (que eu acho muito útil). Eles também organizam “trilhas” culturais que nos permitem um maior envolvimento e experimentar a cultura do país no qual estamos vivendo. Ela é muito mais do que uma empresa de viagens. É um programa que incentiva você a crescer pessoalmente, espiritualmente e profissionalmente.
LBB: Me fale sobre suas viagens até agora. Onde você já esteve?
CO: Comecei em Hanói, no Vietnã, onde visitei a província de Ninh Binh (onde ocorreram as filmagens de “Kong: A Ilha da Caveira”). Também visitei Ha Long Bay, que é de longe um dos lugares mais bonitos que já fui.
Eu completei meu segundo mês em Chiang Mai, na Tailândia, onde fiz viagens paralelas para as ilhas de Hong Kong, Bangkok e Koh Tao. Acabei de terminar meu terceiro mês em Kyoto, no Japão. Também viajei para Tóquio por uma semana.
Acabei de chegar em Kuala Lumpur, na Malásia: um caldeirão cultural que mistura aspectos da China, da Índia e da Malásia. Até agora, tem sido incrível.
LBB: E quais são seus lugares favoritos?
CO: Embora todos os lugares que eu visitei tenham sido incríveis, o Japão e o Vietnã definitivamente foram meus favoritos, já que ambos têm as culturas mais fortes que já vi.
O Japão é um país com tanta honra e orgulho cultural que você é constantemente inspirado a aprender mais sobre suas tradições. Viajar para Tóquio foi um dos grandes destaques do meu roteiro. Eu também fiz amigos para toda a vida no Japão. Kyoto é um lugar muito espiritual: você está constantemente conhecendo pessoas muito ligadas à natureza e ao universo, o que é algo que eu valorizo.
O Vietnã também é um lugar onde a cultura é muito forte. Começar o trabalho em Hanói certamente me preparou para todos os outros países que visitei. Além disso, a comida de rua é deliciosa.
LBB: Eu entendo que você está obtendo insights sobre o que é preciso para construir um negócio fora dos EUA. O que você já aprendeu?
CO: Há muito a aprender sobre a criação de uma empresa fora dos EUA. Algumas coisas importantes incluem:
• Faça sua pesquisa. É importante ter certeza de que há um mercado para o que você está vendendo nesse novo país;
• Pesquise práticas e leis de negócios. Descubra como é operar no novo local e certifique-se de as coisas funcionarão a seu favor;
• Ao fazer negócios em países estrangeiros, utilize plataformas online, pois pode ser difícil encontrar os recursos necessários para construir e expandir imediatamente após a mudança. Estou constantemente falando às pessoas que conheço sobre o talento que você pode encontrar na internet para ajudar com coisas como fotografia, design gráfico, web design e mídias sociais;
• Se não for nativo no país, busque orientação local com um parceiro comercial ou mentor da região. Ter um sócio ou mentor que seja um expatriado ou um cidadão local que possa lhe ensinar o que não está escrito e o que não é da cultura tem um valor inestimável;
• Construa confiança e relacionamento com os empreendedores locais. Desenvolver relações genuínas com as pessoas em sua nova casa ajudará você a aumentar consideravelmente seus negócios a longo prazo.
LBB: Conte-me sobre seus principais aprendizados a respeito de empreendedores em diferentes países.
CO: Acho que uma das principais coisas que aprendi, especialmente depois de visitar o Japão, é a maneira pela qual a cultura pode influenciar as decisões profissionais das pessoas. Os japoneses, semelhantes a muitas outras culturas asiáticas, valorizam tremendamente a família, de modo que sua pressão, muitas vezes, desempenha um grande papel na tomada de decisões profissionais. A estabilidade também é extremamente importante e, portanto, muitas pessoas ficam longe do empreendedorismo, pois temem a vergonha social se as coisas não funcionarem. A maioria das pessoas decide obter um bom emprego corporativo no qual trabalharão até a aposentadoria.
Nos Estados Unidos, o fracasso ou uma mudança de carreira são vistos de maneira muito diferente. É comum que as pessoas, especialmente os jovens, mudem de emprego a cada poucos anos e, às vezes, mudem até suas trajetórias de carreira. Aqueles que assumem riscos e se tornam empreendedores ou iniciam seus próprios negócios, apesar de quanto sucesso eles já alcançaram em seus trabalhos corporativos, são respeitados e até mesmo invejados.
LBB: Quais são os freios e contrapesos que você tem que ter enquanto trabalha para uma empresa remotamente?
CO: A comunicação constante com sua equipe é extremamente importante ao trabalhar remotamente, pois é essencial garantir que todos estejam na mesma página. O uso de plataformas sociais – como o Slack – me ajudou a manter contato com minha família da Fiverr, especialmente porque chamadas de vídeo ou telefone, em conferência, nem sempre são convenientes devido às grandes diferenças de horário.
O gerenciamento de tempo também é extremamente importante. Eu crio meu próprio horário de trabalho para saber como priorizar minhas várias tarefas. Como criadora de conteúdo trabalhando remotamente, meu horário de trabalho difere de semana para semana. Eu não tenho uma tradicional semana de trabalho das 9h às 17h. Às vezes tenho reuniões com empresários em um sábado ou depois do horário de trabalho e, portanto, tenho que criar minha programação em torno de sua disponibilidade. Por isso, planejar o máximo possível para entregar o trabalho a tempo é muito importante.
Por fim, manter uma boa saúde é primordial enquanto trabalhamos remotamente, já que ficar doente em um país estrangeiro pode impedi-lo completamente de realizar qualquer trabalho.
LBB: Quais são as vantagens?
CO: Uma das principais vantagens de trabalhar remotamente é a capacidade de viajar e expandir constantemente sua rede global. Conheci tantas pessoas incríveis enquanto trabalhei à distância – pessoas que influenciarão de maneira absoluta as formas como abordarei o cinema no futuro.
LBB: O que você apontaria como o segredo por trás do seu sucesso?
CO: Meu ingrediente secreto para o sucesso é, definitivamente, a minha capacidade de acreditar que tenho o poder de manifestar meus sonhos e objetivos. Muitos de nós têm medo da ambição, de correr riscos e falhar, mas nada disso me preocupa. Estou confiante de que estou seguindo meu chamado no mundo e com muito trabalho, muita pressa e um pouco de delicadeza, o resto se seguirá. Uma das minhas citações favoritas de Nelson Mandela é: “Não há nenhuma paixão em ser pequeno, em se contentar com uma vida que é menor do que aquela que você é capaz de viver”. Isso é algo que me motiva no dia a dia.
LBB: O que vem a seguir?
CO: Depois que esse trabalho terminar, eu estou indo para casa para começar a planejar o lançamento do episódio piloto do meu novo projeto afro futurista intitulado “Black Lady Goddess”. Este filme é inspirado em narrativas de criação africanas e é uma mistura perfeita de ficção científica, cultura pop e comentário social satírico.
Este projeto permitirá que o público tenha conversas complicadas sobre questões raciais e sociais, muitas vezes varridas para debaixo do tapete. Eu também planejo continuar trabalhando com a Fiverr, criando conteúdo sobre empreendedorismo em outros continentes, especificamente na África, já que há tantas imagens deturpadas do continente.
Por fim, planejo construir minha produtora, a O Chelsy Productions LLC, e trabalhar para outras grandes marcas e músicos que valorizem minha voz e arte da mesma forma que a Fiverr tem feito nesses últimos quatro meses.
Veja, na galeria de fotos abaixo, 5 coisas que Chelsea Odufu aprendeu com os empreendedores enquanto estava na estrada:
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Reprodução/Forbes Não tenha medo de falhar e aceite que o fracasso faz parte do processo.
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Reprodução/Forbes Você nunca fará mais do que alguém acha que vale a pena, então saia e siga seus próprios sonhos.
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Reprodução/Forbes Às vezes você pode trabalhar muito e as coisas ainda não acontecerem da maneira que você quer. Mas aprenda com seus erros, assuma a responsabilidade por suas deficiências e continue avançando.
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Reprodução/Forbes Não há uma realidade cultural – há bilhões. Aproveitando coletivamente o poder do pensamento e trabalhando com habitantes locais, você pode penetrar com mais eficiência nos mercados globais.
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Reprodução/Forbes Não feche os olhos ao buscar dinheiro: entenda o valor das novas experiências, conexões fortes e relacionamentos genuínos.
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